O que voltaire quis dizer com sua obra amor comparado

Bocage publicou apenas as Rimas em vida, totalizando três volumes: o primeiro em 1791, o segundo em 1799 e o terceiro em 1804.

Show

Bocage produziu uma obra muito diversa em conteúdo e estilo de escrita. Inicialmente, ele foi influenciado pelo neoclassicismo pregado na escola árcade, momento no qual ele assumiu o pseudônimo de Eumano Sadino para assinar seus textos. Depois, produziu uma escrita de estilo pré-romântico e, ao final da vida, elaborou poemas com temática religiosa.

O autor apresenta um pensamento pelo viés da razão (em detrimento da fé e da religiosidade) para agir e experimentar as questões humanas e do mundo, uma característica do Arcadismo.

Bocage escreve pela perspectiva de um pastor perante o seu rebanho, o seu amor e a natureza. Essa última é muito retratada nos textos árcades como um elemento tranquilo e equilibrado. A natureza é abordada como um lugar simbólico para o ser humano que almeja um ideal de vida simples diante dela.

Bocage assume uma perspectiva individual (ao invés de um universalismo clássico) ao tratar dos sentimentos humanos, sempre permeado pela concepção fatalista, que é uma característica dos escritores pré-românticos. Sua linguagem apresenta construções em primeira pessoa, evidenciando ações sobre o “eu”.

O escritor apresenta uma estética rica que envolve o uso de interjeições, reticências, exclamações e, por vezes, incorpora a linguagem coloquial na forma clássica do soneto. Por isso, Bocage ficou conhecido como um repentista que versava sobre o povo a partir da linguagem satírica, erótica e pornográfica, ironizando os seus contemporâneos em alguns poemas. Palavrões e vocabulário de baixo calão também são comuns nesses textos, muitos deles censurados.

Conforme você viu, as características de Bocage dialogam com seus diferentes momentos de escrita ao longo da vida.

Poemas de Bocage Bocage escreveu sobre os mais diversos assuntos na forma clássica do soneto, influenciado pelo estilo de Camões. Sua poesia bucólica segue a escola árcade, tematizando a natureza e o campo em uma perspectiva pastoreira; já sua poesia lírica pré-romântica versa sobre os infortúnios da vida humana sendo a morte um tema constante dos textos, enquanto a poesia satírica é irreverente e provocadora, por vezes, apresentando uma linguagem grosseira. Olha, Marília, as flautas dos pastores Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores? Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores. Publicidade Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha pára, Ora nos ares sussurrando gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Mais tristeza que a noite me causara. Esse poema é um exemplo clássico de texto arcádico, pois apresenta um eu-lírico que conversa com a sua musa, observando os pastores e a natureza em um clima harmônico e equilibrado. A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu quando os cotejo! Igual causa nos fez perdendo o Tejo Arrostar com o sacrílego gigante: Como tu, junto ao Ganges sussurrante Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante: Lubíbrio, como tu, da sorte dura, Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura: Modelo meu tu és… Mas, ó tristeza!… Se te imito nos transes da ventura, Não te imito nos dons da natureza. Bocage compara sua vida à de Camões (o autor gostava de construir esse paralelismo biográfico com seu antecessor), tematizando os infortúnios experimentados por ambos e trazendo a morte como o único destino certo de todos. Lá quando em mim perder a humanidade Lá quando em mim perder a humanidade Mais um daqueles, que não fazem falta, Verbi-gratia – o teólogo, o peralta, Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade: (adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({}); Não quero funeral comunidade, Que engrole sub-venites em voz alta; Pingados gatarrões, gente de malta, Eu também vos dispenso a caridade: Mas quando ferrugenta enxada idosa Sepulcro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou a vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu, sem ter dinheiro”. No poema acima, Bocage utiliza uma linguagem sarcástica para criticar a nobreza e o clero, além de expor sua ironia e palavrões ao final do soneto. Conforme você viu, Bocage versou sobre temas diversos em sua poesia, por isso a obra do poeta é dividida em diferentes momentos: o neoclássico, o pré-romântico, o satírico e erótico.

5 frases de Bocage

Abaixo, listamos algumas frases famosas retiradas dos poemas de Bocage.

  1. “Ah! Se a vossa liberdade/ Zelosamente guardais,/ Como sois usurpadores/ Da liberdade dos mais?” (Obras poéticas)
  2. “Rasga meus versos, crê na eternidade!” (Poemas)
  3. “Liberdade, onde estás? Quem te demora? / Quem faz que o teu influxo em nós não caia?” (Poemas)
  4. “Amor, o injusto Amor, nume doloso/ Insensível penedo a meus gemidos” (Poemas)
  5. “Aquele canta e ri; não se embaraça/ Com essas coisas vãs que so mundo adora/ Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora/ Porque não acha bem que o satisfaça”. (Sonetos)

Agora que você conheceu um pouco da obra de Bocage, confira algumas curiosidades sobre o autor no próximo tópico.

Curiosidades sobre Bocage

Separamos algumas curiosidades sobre a vida e a importância do escritor, leia a seguir!

  • Em homenagem ao poeta, o dia 15 de setembro (data de seu nascimento) é feriado em Setúbal, cidade natal de Bocage.
  • Em 1786, o escritor embarcou para a Índia e no caminho fez uma passagem pela cidade do Rio de Janeiro.
  • Bocage fez parte da Nova Arcádia (academia literária de Portugal com estética de oposição ao Barroco), mas, descontente com o movimento, satirizou os integrantes e foi expulso do grupo.
  • Por sua obra provocativa, Bocage chegou a ser preso em 1797, acusado de conspiração contra a segurança do Estado. Sob a intervenção de amigos, foi transferido para prisões inquisitoriais (em mosteiros e hospícios) sob a acusação, menos grave, de se insurgir contra a religião.
  • Conforme vimos, Bocage realmente teve uma vida repleta de aventuras!

    Vídeos sobre um poeta de múltiplas faces

    Vamos revisar o conteúdo? Veja os vídeos que selecionamos para fixar o que você aprendeu e apresentar outras informações sobre Bocage!

    Tudo sobre Bocage

    O professor Lucas Limberti apresenta a biografia e a obra do escritor, trazendo algumas curiosidades. Ao final do vídeo, há uma resolução de questões de vestibulares sobre Bocage. Confira!

    O arcadismo e o pré-romantismo em Bocage

    Neste vídeo, a professora Faieth fala sobre o contexto histórico de Portugal no momento da produção árcade e analisa alguns poemas de Bocage.

    Bocage: um poeta de muitos temas

    Nesta videoaula, a professora Débora explica as características do Arcadismo, a história de vida de Bocage e analisa alguns poemas. Assista!

    Agora que você já conhece Bocage e um pouco da sua produção literária, aprofunde seus conhecimentos sobre o Arcadismo!

    Referências

    O Perfil Perdido (2003) – Adalberto Gonçalves

    Bocage lírico: sonetos de amor e morte (2011) – Adriana Cristine dos Santos Silva, Camila Áxis Landin, Francidalva Rodrigues Dias

    Bocage – Obra completa – volume VII: Poesias eróticas, burlescas e satíricas (1987) – José Lino Grünewald (org.)

ORIGEM

Paris (1694-1778)

CORRENTE FILOSÓFICA

Iluminismo/ Liberalismo Político

PRINCIPAIS OBRAS

Tratado sobre a Tolerância; Cândido ou O Otimismo; A Princesa da Babilônia; Cartas Filosóficas

FRASE-SÍNTESE

“Devemos cultivar nosso jardim.”

BIOGRAFIA

Continua após a publicidade

Voltaire é o pseudônimo de François-Marie Arouet, que nasceu em 21 de novembro de 1694, em Paris. O contato prematuro com o ambiente libertino da intelectualidade parisiense, como o círculo formado pela Société du Temple, foi fundamental para a sua formação – aos 21 anos, já tinha a reputação como a inteligência mais arguta de Paris. Influenciado pelo grupo, escreveu em 1717 a sátira em versos sobre o trabalho do francês Philippe d’Orléans. Considerada ofensiva, a obra leva-o à prisão por um ano na Bastilha. Em 1723 voltou a ser preso por ofensas ao príncipe Rohan-Chabot. Espancado e preso na Bastilha, Voltaire aprendeu a buscar a proteção dos ricos e poderosos, vivendo em diversas cortes.

Exilou-se na Inglaterra, onde conheceu as ideias iluministas. No retorno a Paris, publicou Cartas Filosóficas, ou Cartas Inglesas (1734), em que compara a tolerância religiosa e a liberdade de expressão na Inglaterra com o atraso do clero e da sociedade franceses. Em 1788, aos 84 anos, três meses antes de sua morte, Voltaire teve um busto seu inaugurado em homenagem à sexagésima representação da peça Irene.

“O que é fé? É acreditar naquilo que é evidente? Não. É perfeitamente evidente na minha mente a existência necessária, eterna e suprema de uma inteligência criadora. Isso não é uma questão de fé, mas de razão.”

A FILOSOFIA DE VOLTAIRE

O que voltaire quis dizer com sua obra amor comparado
Retrato de Voltaire Reprodução/Reprodução

Voltaire foi um grande entusiasta da filosofia do século XVII, apaixonado pela razão e admirador de filósofos como Descartes, Newton e, sobretudo, Locke, que Voltaire acreditava ser o “Aristóteles moderno”. Ao contrário de Montesquieu, Voltaire nunca deixou uma obra sistemática como o Espírito das Leis, mas foi um homem de ação, grande agitador e propagandista do espírito das luzes e crítico ferrenho de sua época, publicando inúmeros poemas e romances. Ele sempre encarou o mundo e o homem com um humor inteligente, divertido e engajado.

A defesa do livre pensamento foi o pilar da filosofia de Voltaire. Ela pode ser sintetizada em uma frase que lhe é comumente atribuída: “Não concordo com uma palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la”. Apesar de não haver certeza de que a frase seja mesmo de Voltaire, ela expressa bem seu pensamento.

A Igreja Católica e a monarquia francesa foram seus dois alvos prediletos. Voltaire não era ateu e reconhecia Deus como princípio explicativo do universo: “Se Deus não existisse seria necessário inventá-lo”. Também acreditava que Deus é uma verdade rigorosamente demonstrável: “Eu existo, logo algo necessário e eterno existe”. Mas o pensador parisiense atacava a superstição, a crença nos milagres e a repressão da Igreja. A figura do clérigo era sempre satirizada por Voltaire: “Acreditem em Deus, mas não acreditem nos padres”. Muitas de suas correspondências terminavam com expressões dirigidas contra a Igreja Católica, como nas Cartas Inglesas, na qual se refere a ela com sua máxima: “Esmagai a Infame!”.

Essencialmente burguês e um reformista moderado, Voltaire era admirador da Constituição Inglesa, defendendo a ideia de que os reis deveriam ser também filósofos, simpático ao que posteriormente se chamou de “despotismo esclarecido”, isto é, que os reis adotassem preceitos iluministas. As prisões arbitrárias, a tortura, a pena de morte e os altos impostos eram sempre atacados pelo parisiense.

Voltaire hoje

Voltaire tem como um dos pilares de sua obra a defesa da liberdade de expressão, que só se realiza, perceba, quando há também a defesa das liberdades do outro. Quando, atualmente, são proferidos discursos de ódio, há uma evidente distorção da noção iluminista da liberdade de pensamento: quando o discurso defende a supressão dos direitos do outro, não se trata de liberdade de expressão, mas de um discurso de ódio.

Continua após a publicidade