Como a maioria da população de cabo verde vive

Os dados constam do V Recenseamento Geral da Agricultura (RGA), que concluiu que em 2015 um total de 182.396 pessoas (34,8% da população) praticavam a agricultura em Cabo Verde, menos 17,9% do que os 222.254 de 2004, ano em que tinha sido realizado o último estudo.

O estudo, cuja recolha direta foi feita pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) entre novembro de 2015 e março de 2016, revelou que o país contava com 45.399 explorações agrícolas familiares, um aumento de 2,1% em relação ao último recenseamento.

De acordo com o documento, o país tinha 42.470 famílias em que pelo menos um membro praticava a agricultura, totalizando 182.396 pessoas e correspondendo a 34,8% da população.

No que diz respeito à população agrícola, o estudo notou um equilíbrio de género, sendo 50,9% de mulheres e 49,1% de homens, e que dois terços (65,1%) vivem no meio rural e 34,9% no meio urbano.

Segundo o recenseamento, o quinto do género realizado em Cabo Verde, a maioria da população ativa (71,6%) na agricultura tem entre 20 a 65 anos, tendo também um equilíbrio de género, com 50,3% de homens e 49,7 de mulheres.

Relativamente aos concelhos e ilhas, o recenseamento notou que a maioria das explorações agrícolas (59,1%) localiza-se na ilha de Santiago, também a maior do país, sendo 13,6% no concelho de Santa Catarina, interior da mesma ilha.

O estudo concluiu que o país tem um total de 74.944 parcelas agrícolas, que ocupam uma área de 34.456 hectares, o que corresponde a 9,1% do território nacional cultivado, sendo aqui menos 1,9% do que o último recenseamento.

Em relação ao ano de 2004, a investigação concluiu que houve uma diminuição das parcelas agrícolas de sequeiro (16,8%%), mas em contrapartida as de regadio aumentaram significativamente 18,4%.

Também as explorações agrícolas familiares de sequeiro diminuíram (1,7%) enquanto as de regadio aumentaram 22,2%, o que quer dizer que há mais gente a praticar a agricultura irrigada em relação ao ano de 2004 em Cabo Verde.

Em declarações aos jornalistas, Inussa Barry, apresentador dos dados e diretor de Estatísticas do Ministério da Agricultura e Ambiente, justificou a diminuição do número de parcelas agrícolas com a expansão demográfica e a urbanização do país.

Presente na apresentação, o ministro das Finanças cabo-verdiano, Olavo Correia, destacou a importância do recenseamento, considerando que a agricultura deve ser vista como um meio de rendimento e de combate à pobreza e também ser um setor competitivo e inovador.

Sublinhando o número de pessoas que vivem da agricultura (quase 35% da população), o ministro referiu a necessidade de se trabalhar numa lógica empresarial, com um sistema que potencie o setor, combatendo a informalidade e exclusão financeira dos agricultores.

As ideias de Olavo Correia foram reforçadas pelo colega da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, que destacou a importância dos dados para a governação, para os produtores e para definição da estratégia de desenvolvimento do setor agrário em Cabo Verde.

O ministro salientou que os dados confirmam as características da estrutura agrária cabo-verdiana e que são bases para o país poder desenvolver um sistema estatístico agrícola permanente e não apenas de 10 em 10 anos.

Pelo número de pessoas que emprega, o ministro disse que a agricultura é a principal atividade económica do país, mas sublinhou que ainda enfrenta muitos desafios, com destaque para o aumento da produção, para ser maior do que os atuais 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

O ministro destacou também o aumento da agricultura de regadio, mas sublinhou o facto de quase 50% das dos agricultores não terem a posse dos terrenos, afirmando que o Governo terá de definir uma política de apoio às famílias para terem a titularidade dos terrenos.

Melhor gestão da água, organização da atividade, sustentabilidade, melhor integração com outros setores, criação de rendimento foram outros desafios do setor apontados pelo ministro.

Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou, esta segunda-feira, os dados definitivos do Censo2021. Cabo Verde tem hoje menos habitantes do que há 10 anos

No total 491.233 pessoas vivem em Cabo Verde o que mostra que há hoje menos 450 pessoas no país do que havia há 10 anos, quando o Instituto Nacional de Estatística realizou o Censo 2010.

Os dados definitivos da operação de recenseamento geral da população mostraram que além da diminuição da população há um estreitamento da pirâmide etária o que indica que a população está a envelhecer e que há menos crianças a nascer.

“Relativamente a 2010, temos uma diminuição de 450 indivíduos. A nossa pirâmide etária mostra uma contracção da base, o que significa que temos baixa fecundidade e a par disso os dados de emigração mostram que estão a sair, sobretudo, jovens em idade reprodutiva, sobretudo mulheres”, disse a responsável da Unidade metodologia, concepção e análise do Gabinete do Censo, Elga Tavares, aos jornalistas à margem da apresentação dos dados definitivos do Censo2021.

Agregados familiares

Segundo os dados divulgados pelo INE a população residente em Cabo Verde é, na sua maioria, masculina (50,2%) e a única excepção é nos concelhos de Santiago, onde o número de mulheres supera o número de homens.

É na Praia que se concentra a maioria dos agregados familiares residentes no país. Os dados do INE dão conta da existência de um total de 147.984 agregados em todo o país dos quais 44.352 residem na capital. Segue-se São Vicente com um total de 25.071 agregados familiares e o Sal com 11.309.

Pelos dados divulgados pelo INE é possível concluir que a dimensão dos agregados familiares tem vindo a diminuir. No Censo realizado em 2010 um agregado familiar era constituído, em média, por 4,2 pessoas. Agora, 10 anos depois, um agregado tem em média 3,3 pessoas.

Por concelho, é nos municípios de Santa Cruz e Ribeira Grande de Santiago que o tamanho médio dos agregados familiares é maior sendo constituído por 4 pessoas. Já os menores ficam nos concelhos do Sal e Boa Vista onde cada agregado familiar é constituído, em média, por 2,9 pessoas.

Os agregados familiares nucleares, revela o INE, são dominantes constituindo 24,7% do total, seguem-se os agregados familiares unipessoais (21,5%) e os agregados familiares monoparentais nucleares (16,4%).

Habitação, água e electricidade

Mais de 90% da população tem acesso a electricidade e quase 75% a água potável de forma segura.

De acordo com os dados apresentados, esta segunda-feira, pelo INE, a proporção de população com acesso à electricidade era, em 2021, de 91,5%, e a que usava serviços de água potável “administrados de forma segura” de 74,7%.

Já em termos de habitação o INE revelou que nesta operação foram recenseados 150.206 edifícios, 201.348 alojamentos e que 2,1% da população urbana vive em “barracas, assentamentos informais ou habitação inadequada” e 0,2% em contentores ou outros locais improvisados.

Emigração

A emigração teve, na última década, um ligeiro abrandamento.

Segundo os dados, presentes no Censo2010, mais de 18 mil cabo-verdianos tinham procurado melhores condições de vida noutros países.

Agora, segundo os valores apresentados pelo INE, e referentes ao Censo2021, foram 17.961 os cabo-verdianos que emigraram.

Portugal é o principal destino (61,9%), seguindo-se os EUA (17,6%) e França (6,6%).

O relatório revela igualmente que a maioria dos emigrantes são mulheres (52,6%) e têm entre os 15 e os 34 anos (64,1%).

População estrangeira

No Censo2021 é revelado que vivem em Cabo Verde 10.875 pessoas de nacionalidade estrangeira. A maioria são homens (68,3%).

Já no que respeita a nacionalidades a Guiné-Bissau é o país com a maior comunidade a residir em Cabo Verde (33,7%), segue-se o Senegal e Portugal com 11,3% e 10% respectivamente. A China é a quarta maior comunidade estrangeira.

No que respeita a países da CPLP o INE mostra que em Cabo Verde residem cidadãos São Tomé e Príncipe, Brasil e Angola. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1062 de 6 de Abril de 2022.

Localizado a 500 km da costa ocidental de África, Cabo Verde é um arquipélago que consiste de 10 ilhas, nove das quais habitadas. O país tem uma população residente de cerca de 483.628 habitantes (Censo 2021). Somente 10% do seu território é classificado como solo cultivável e o país tem recursos minerais limitados.

A economia cabo-verdiana é suportada pelo turismo – que representa 25 por cento do PIB e conduz cerca de 40 por cento da actividade económica global – com um clima temperado ao longo de todo o ano, belas praias, riscos de insegurança baixos e proximidade com o continente europeu. A fragmentação do território cria desafios de conectividade significativos, bem como obstáculos para a entrega ou fornecimento de serviços, incluindo energia, água, educação e cuidados de saúde.

Apesar dos desafios associados a uma pequena economia insular, Cabo Verde assiste a um progresso económico notável desde 1990, em grande parte encabeçado pelo rápido desenvolvimento do turismo, particularmente de resorts tudo-incluído, para além de desenvolvimentos sociais consideráveis resultantes da implementação de fortes políticas sociais desde os anos 70.

Até 2019, Cabo Verde podia ser considerado um dos campeões entre os países da África Subsaariana em termos de redução da pobreza. As projecções de pobreza baseadas no seu crescimento económico sugerem que as taxas de pobreza, medidas pela linha de pobreza de 5,5 dólares por dia (2011PPP), diminuíram 6 pontos percentuais entre 2015 e 2019, de 41% para 35%, o que corresponde a cerca de 23.000 pessoas que saem da pobreza. Além disso, entre 2001 e 2015, a desigualdade (medida pelo Índice de Gini) caiu de 53 para 42.

Contexto político

Cabo Verde vem sendo apontado como um exemplo de democracia em África, em grande parte graças à sua estabilidade política. Os processos eleitorais têm decorrido sem distúrbios, sendo realizados com regularidade e considerados livres e legítimos, com uma alternância pacífica de poder entre os dois maiores partidos do cenário político no país. O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), responsável pela libertação colonial, ideologicamente de esquerda, governou Cabo Verde por dois períodos de 15 anos: sob um regime de partido único, logo após a independência do país; e de 2001 a 2016, ao assegurar três vitórias legislativas consecutivas. O Movimento para a Democracia (MpD), partido liberal e ideologicamente de direita, governou Cabo Verde pouco depois da abertura política por dois mandatos, nos anos 90, regressando ao poder em 2016, e é hoje a força política que sustenta o atual governo. A União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) representa a terceira força política em Cabo Verde, embora com mais expressão no norte do país. 

O MpD foi reeleito para um novo mandato de 5 anos, nas eleições legislativas realizadas em Abril de 2021, e Ulisses Correia e Silva foi renomeado como Primeiro-Ministro.

As eleições presidenciais foram realizadas a 17 de Outubro de 2021 e o candidato apoiado pelo PAICV, José Maria Neves, foi eleito e empossado a 9 de Novembro de 2021.

Cabo Verde realizou três eleições pacíficas entre Outubro de 2020 e Outubro de 2021, cujos resultados foram transmitidos electronicamente, consideradas exemplares para África pela imprensa internacional.

Contexto Económico

Antes da crise económica global da COVID-19, Cabo Verde conheceu um crescimento económico robusto impulsionado por um sector turístico próspero e reformas estruturais fortes, mas a crise paralisou a economia em 2020. Entre 2016 e 2019, o crescimento médio foi de 4,7 por cento (3,2 em termos per capita). O crescimento económico sustentado e robusto levou a um declínio da pobreza de 35 por cento em 2015 para 28 por cento em 2019. O choque da COVID teve um impacto negativo no país através do sector do turismo, que representa 25% do PIB e impulsiona cerca de 40% de toda a actividade económica; e através da redução do IDE, uma fonte crítica de finanças externas e um motor essencial de crescimento. Como resultado, a economia contraiu 14,8 por cento em 2020.

Estima-se que o PIB real tenha aumentado 7% em 2021, reflectindo uma recuperação gradual do sector do turismo, bem como um "efeito de base". A crise levou a um aumento significativo do défice orçamental em 2020, que se manteve elevado em 2021. Do lado da procura, as medidas de crescimento económico lideradas pelo consumo privado e pelo investimento, apoiadas pela reabertura gradual da economia, postas em prática pelo Governo para apoiar empresas e sectores duramente atingidos, e a retoma progressiva de projectos de IDE, ajudaram à recuperação. Do lado da oferta, os sectores do comércio e da construção impulsionaram o crescimento económico. O défice fiscal global foi de 8,8% do PIB, e a dívida pública aumentou para 155,3% do PIB em 2021, com a necessidade de recorrer a empréstimos externos concessionais adicionais para financiar o programa de investimento público e a emissão de obrigações do Tesouro no mercado interno.

A economia irá provavelmente crescer a um ritmo mais lento em 2022, reflectindo o impacto da crise da Ucrânia. O crescimento real do PIB está projectado em 4,0 por cento em 2022, mas acima do potencial (4,5 por cento) em 2023 e 2024, prevendo-se que o PIB real per capita regresse ao nível de 2019 no último ano.

Última atualização:29 de abril de 2022