No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento

Para entender o texto

1 O texto lido é um artigo de opinião. Responda no caderno: qual é o objetivo desse texto?

Resposta: O enunciador expõe seus conhecimentos e explicita sua opinião sobre um assunto, procurando informar o destinatário sobre essa temática e, também, persuadi-lo a aderir ao ponto de vista elucidado.

2 No primeiro parágrafo do texto, o enunciador opõe duas ideias. Responda no caderno:

a) Quais são elas?

Resposta: As ideias opostas são: aquilo que, segundo ele, é evidente, ou seja, as belas praias, o céu quase sempre ensolarado e o clima quente e convidativo; e o que é inimaginável, ou seja, o que se esconde, o turismo sexual.

b) Você sabe o nome desse recurso de linguagem que consiste em colocar lado a lado ideias opostas?

Resposta: Trata-se da antítese.

Atenção professor: Se os alunos não conseguirem responder à questão, esclareça a eles o que é antítese. No boxe, ao final desta seção, há uma breve explicação dessa figura de linguagem. Fim da observação.

c) No texto lido, qual é o efeito de sentido obtido com o emprego desse recurso?

Resposta: Ao colocar lado a lado as ideias opostas, o enunciador procura chamar a atenção para os pontos positivos e negativos da cidade de Natal, contrapondo a ideia de beleza ao que essa aparência esconde.

Atenção professor: Ajude os alunos a entenderem que, no texto 1, a oposição entre as ideias é importante porque caracteriza o problema apresentado. Fim da observação.

3 O segundo parágrafo do texto desdobra o significado da expressão turismo sexual. Nesse desdobramento, o enunciador também opina sobre a situação apresentada. Identifique as palavras ou expressões que evidenciam essa opinião e escreva-as no caderno.

Resposta: A forma verbal pasmem e a expressão realidade vergonhosa.

4 Releia este trecho do texto e responda à questão a seguir no caderno:

Sendo assim, é coerente questionar: "Por que a indústria do turismo sexual tem um crescimento exponencial que desafia toda sorte de organizações, bem como o poder público?". (linhas 13-17)

Nele, o enunciador faz uma pergunta que polemiza a situação exposta anteriormente. Da forma como é feita a pergunta, espera-se que o leitor concorde, discorde ou tente formular sua hipótese a respeito do assunto?

Atenção professor: Espera-se que os alunos percebam que a expectativa do enunciador é de que o leitor formule sua hipótese a respeito do assunto. A pergunta refere-se ao agravamento do turismo sexual como um desafio a que o poder público responde com omissão. Fim da observação.

5 Após expressar sua opinião, o enunciador procura fundamentá-la. Responda no caderno: em que parágrafo ele faz isso e como?

Resposta: No terceiro parágrafo, quando detalha as causas do "prostiturismo" e sua divulgação explícita, à revelia da lei.

6 De acordo com o texto, o que significa "sexo fácil"?

Resposta: Aquele que se obtém pela própria oferta, via pagamento. No caso do texto, especialmente durante viagens turísticas.

263

7 Em sua opinião, quais palavras do terceiro parágrafo expressam o ponto de vista do enunciador? Explique no caderno o contexto no qual estão inseridas.

Atenção professor: Espera-se que os alunos contextualizem o termo inacreditável, que se refere às mudanças que os cartões-postais natalenses sofreram por causa do estímulo dado pela "nata natalense", nas palavras do enunciador; e a palavra sórdidas, aplicada a estatísticas, que se refere ao aumento do turismo sexual em decorrência da publicidade que o fomenta. Fim da observação.

8 A opinião final do enunciador sobre a prostituição em geral (incluindo o "prostiturismo") revela-se no último parágrafo. Qual é essa opinião?

Resposta: O enunciador é favorável a que se proporcionem condições para a extinção da prostituição como meio de sobrevivência, e não apenas do turismo sexual.

9 Em que valor moral pessoal ele fundamenta sua proposta de intervenção no problema?

Resposta: Segundo o enunciador, trata-se de uma atividade degradante, que fere a dignidade de quem a pratica.

10 Para dar maior peso à sua argumentação, o enunciador a transformou numa contra-argumentação. Explique como ele fez isso.

Resposta: O enunciador cita uma opinião contrária a sua: a do jornalista André Prety, que propõe a profissionalização da prestação de serviços sexuais.

11 No sexto parágrafo, a fim de reforçar seu argumento favorável à extinção da prostituição, o enunciador recorre a outro argumento. Qual?

Resposta: Associa prostituição à violência e ao uso de drogas.

12 Que estratégias o enunciador utiliza para validar suas opiniões e, assim, persuadir o leitor?

Resposta: O autor busca outras vozes que validem sua opinião, como os dados da pesquisa da Asprorn e a citação da fala de Câmara Cascudo.

13 Explique no caderno e com suas palavras a crítica feita pelo antropólogo e escritor potiguar Luís da Câmara Cascudo aos seus conterrâneos, que é recuperada pelo enunciador no último parágrafo.

Resposta pessoal.

Atenção professor: O importante é que o aluno entenda que o escritor, nascido em Natal, critica seus conterrâneos ao afirmar que eles quase nunca estão de acordo em discutir ou se preocupar com assuntos sérios. Fim da observação.

Boxe complementar:



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No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento
No terceiro parágrafo desse texto o autor utiliza como argumento


Page 2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Faraco, Carlos Emílio

Língua portuguesa : linguagem e interação / Faraco, Moura, Maruxo Jr. -- 3ª ed. -- São Paulo : Ática, 2016.

Obra em 3 v.

Bibliografia.

1. Português (Ensino médio) I. Moura, Francisco Marto de. II. Maruxo Júnior, José Hamilton. III. Título.

16-02350 CDD-469.07

Índices para catálogo sistemático:

1. Português : Ensino médio 469.07

3

APRESENTAÇÃO

CARO ESTUDANTE,

Esta coleção foi feita especialmente para você. Com ela, você perceberá que estudar a língua portuguesa é uma atividade envolvente, dinâmica e prazerosa.

No Ensino Médio, a literatura passa a fazer parte de seu curso mais intensamente, e você vai conhecer obras de alguns dos mais significativos escritores brasileiros e de outras literaturas de língua portuguesa. Certamente vai notar que há inúmeras relações entre essas obras - os sentimentos e a realidade nelas expressos, as personagens existentes e as histórias de que participam - e a realidade que você mesmo vivencia.

A partir da análise de textos diversos - jornalísticos, biográficos, publicitários, literários, etc. -, os estudos de linguagem são propostos de uma for ma que procura ser sempre a mais agradável e significativa possível. Assim, você poderá compreender as muitas relações que há entre a linguagem que se utiliza nas situações de comunicação do dia a dia e aquela que deve ser empregada nas situações mais formais. E vai saber utilizar a língua portuguesa para se exprimir da maneira mais adequada.

Para colaborar na realização dessas conquistas, esta coleção lhe oferece um conjunto de situações comunicativas que servirão de base para você e seus colegas interagirem uns com os outros, por meio da linguagem, relacionando o que já sabem com conhecimentos novos.

Ao elaborar essas situações de comunicação, procuramos organizar cada uma delas de maneira que você possa desenvolver um percurso de aprendizagem em cinco etapas:

● Primeiro, você lerá alguns textos a fim de desenvolver estratégias de leitura, necessárias quando é preciso compreender determinados gêneros ou tipos de texto.

● Em seguida, estudará as características desses tipos de texto para entender como se organizam, para que servem, em que situações de comunicação costumam ser utilizados.

● Depois, conhecerá obras literárias que têm relações com os textos estudados. Para ajudar você a compreender essas obras literárias, são apresentadas informações sobre seus autores, o contexto em que foram produzidas, entre outras. Assim, aos poucos, você vai desenvolver o prazer de ler esses (e outros) textos literários, temos certeza.

● As propostas de reflexão sobre a língua e a linguagem - essenciais para você aperfeiçoar sua maneira de se comunicar - constituem a quarta etapa desse processo.

● O percurso termina com atividades de produção de textos, orais e escritos, a serem realizadas individualmente ou em atividade coletiva.

Para auxiliar você e seus colegas a vencer cada etapa desse percurso, contem com a preciosa orientação do professor.

Pouco a pouco, vocês notarão que as aulas de Língua Portuguesa vão se transformar em um espaço de convívio e interação.

Os autores

4




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Page 3

Língua - análise e reflexão, p. 236

I. Léxico e relações de sentido, p. 236

II. Os valores (sociais, estéticos, individuais, etc.) das palavras e os efeitos de sentido, p. 237

9

III. Relações semânticas e campos lexicais, p. 239

Campo lexical, p. 240

Polissemia e ambiguidade, p. 240

Práticas de linguagem, p. 242

I. Produção oral - exposição oral (II), p. 242

II. Produção escrita - escrita de uma notícia, p. 245

Agora é com você!, p. 248

E a conversa chega ao fim, p. 250

Caderno de viagem, p. 250

O trabalho da Unidade e a autoavaliação, p. 252

UNIDADE 4

EU ACHO QUE SIM, E VOCÊ?, p. 254

Para começo de conversa, p. 256

CAPÍTULO 7 - ARTIGO DE OPINIÃO, p. 258

TEXTO 1 Natal: noiva do sol, amante da prostituição, Taiana Cardoso Novais, p. 260

Para entender o texto, p. 262



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Page 4

Verso e prosa

Um texto escrito pode ser organizado de muitas maneiras. Vamos estabelecer um critério de análise. Vamos pensar, por exemplo, apenas na questão de haver ou não imagens nesse texto: quando não há imagens, só palavras, trata-se de um texto verbal; quando há também imagens, ele é um texto icônico-verbal.

LEGENDA: Verbete reciclagem do Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de Antônio Houaiss e Mauro de Salles Villar (Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. p. 1622): um texto verbal.

FONTE: Reprodução/Objetiva

LEGENDA: Peça publicitária da campanha Separe o lixo, acerte na lata, lançada em 2011, estimulando a prática de reciclagem de materiais. Trata-se de um texto icônico-verbal, pois reúne texto verbal e texto não verbal.

FONTE: Ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Social/Governo Federal

Atenção professor: Neste momento, o importante é que os alunos compreendam a característica essencial de um texto icônico-verbal, que reúne texto verbal e não verbal. Se julgar oportuno, explore com eles a linguagem desta peça publicitária. Fim da observação.

16

A tradição dos estudos do texto considera que existem duas maneiras fundamentais pelas quais os textos verbais costumam ser organizados: em prosa ou em verso. Essa classificação leva em conta principalmente a disposição do texto no papel.

Textos como o miniconto de Dalton Trevisan que você leu aqui são classificados como prosa. Na prosa, as linhas do texto ocupam toda a extensão horizontal da página, vão de uma margem à outra. O texto divide-se em blocos chamados parágrafos. Outros exemplos de textos geralmente escritos em prosa: notícias de jornal, capítulos de um romance, carta pessoal, e-mail, etc. Ainda dentro dessa classificação, observe também uma página de jornal: em geral, a largura da página é dividida em colunas (às vezes três), nas quais os textos são organizados.

Por sua vez, o poema de Carlos Drummond de Andrade é um texto em verso, em que as linhas não ocupam necessariamente toda a largura da página, de margem a margem. O bloco formado por um conjunto de versos não é o parágrafo, e sim a estrofe. O verso tem, além disso, propriedades especiais, que dificilmente são encontradas na prosa: métrica, ritmo e rima (leia o boxe a seguir). Exemplos de textos em versos: poemas, letras de canções, hinos (de times esportivos, religiosos, pátrios), parlendas, quadrinhas.

Essa classificação, embora seja tradicional e exista há muito tempo, não consegue enquadrar todos os textos existentes, pois não se aplica a todos os casos. Certos textos combinam diferentes modos de organização que escapam a essa classificação em prosa ou verso.

Há ainda textos que ficam no limite entre prosa e verso, como os provérbios, já que são constituídos por uma única linha, mas têm propriedades como ritmo e rima, mais típicas do verso. Por exemplo, os provérbios "Quem cala consente" e "Quem tem boca vai a Roma" têm ritmo bem marcado, como se fossem versos, para facilitar a memorização.

Boxe complementar:




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Page 5

TEXTO 8

O inferno

Canto VI

Dante Alighieri

No círculo terceiro estou; maldita

eterna chuva, gélida e pesada

em monótono ritmo precipita.

Grosso granizo, neve, água inquinada

(5) pelo ar tenebroso se reversa,

fede a terra por eles encharcada.

Cérbero, fera monstruosa e perversa,

caninamente co' as três goelas late

para a gente que está na lama imersa;

(10) tem barba negra, olhos escarlate,

grosso o ventre e as garras aguçadas

co' as quais as almas fere, esfola e abate.

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia - Inferno. Ed. bilíngue. São Paulo: Editora 34, 1998. p. 55.

Glossário:

Cérbero: personagem da mitologia grega, trata-se de monstruoso cão de diversas cabeças, que guarda a entrada do inferno, permitindo que as almas entrem, mas jamais saiam.

inquinado: infectado; sujo.

Fim do glossário.

LEGENDA: Cena da versão em quadrinhos do designer norte-americano Seymour Chwast para a adaptação de A divina comédia de Dante, de 2011.

FONTE: Companhia das Letras/Arquivo da editora

Boxe complementar:

A obra de Dante, em especial a parte dedicada ao inferno, tem servido de inspiração para a cultura popular. Por exemplo, na música, a banda Iced Earth (heavy metal) tem uma canção chamada Dante's Inferno, e a banda Alesana (hardcore), um álbum baseado na obra de Dante: A place where the sun is silent (Um lugar onde o sol é silencioso).

Veja outros trabalhos inspirados na obra de Dante, além da versão em quadrinhos acima:

LEGENDA: Cérbero representado no videogame Inferno de Dante, de 2010, dirigido por Jonathan Knight e Stephen Barry.

FONTE: Reprodução/Visceral Games/Electronic Arts

LEGENDA: Detalhe da tela Inferno (1480), de Sandro Botticelli (1445-1510).

FONTE: Acervo do Staatliche Museen, Berlim, Alemanha./Arquivo da editora

Fim do complemento.

25

O mesmo tema aparece na obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, outro escritor brasileiro do século XX. Leia um trecho dessa obra a seguir.




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Page 6

#dica vai e brilha! Bom papo será seu ponto (20) forte, use-o pra se destacar onde for.

Câncer (21/6 a 21/7)

- No amor: você irá começar 2016 pensando em encontrar um boy e (olha a sorte!) suas habilidades na paquera darão um help pra alcançar este objetivo (25). Se quiser um lugar pra fazer sucesso, aposte nos passeios ligados à escola. Pra ficar bem com o love, basta se sentir segura, né? Assim, fará de tudo pra ter sossego no lance.

- Com os amigos: você vai valorizá-los ainda (30) mais e irá querer as BFFs sempre ao seu lado. Mais aberta, terá facilidade em trocar ideia com galeras diferentes.

- Em casa: suas atitudes vão demonstrar o respeito que tem por seus pais. Também (35) irá lidar melhor com a mesada, #yay!

Glossário:

BFFs: sigla da expressão em inglês best friends forever, que significa 'melhores amigas para sempre'.

Fim do glossário.

31

- Seu estilo: casual ou fashionista, destaque o que tem de melhor. Saberá comprar peças incríveis e pode até rolar uma limpeza no closet.

(40) #dica vai e brilha! Tem um sonho? Corra atrás

que os astros vão dar um help, sim!



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Page 7

AP - hum hum| (85)

NPS - dos meios de comunicação/ sem dúvida há alguma influência dos meios de comunicação com relação a isto/ mas eu diria/ mais/ diria que na verdade são vários os fatores/ que têm contribuído pra esse quadro de bullying/ né// entre eles/ (90) eu.../ eu nomearia pra vocês/.../ eu enumeraria pra você basicamente três// eu acho que atualmente na sociedade brasileira/ mas não só na brasileira/ no mundo ocidental de um modo geral/ né/ as pessoas não têm... as pessoas têm manifestado... um certo (95) sentimento de impotência diante das crianças e dos adolescentes// este é um fator//

[...]

CBN Total. São Paulo: Rádio CBN FM de São Paulo, 21 maio 2010. Disponível em: cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-total/2011/04/12/ENTENDA-O-QUE-E-O-BULLYING-E-COMO-ELE-PODE-SER-PREVENIDO.htm. Trecho transcrito: de 00:00 a 04:32 min. Acesso em: fev. 2016.

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Page 8

Noção de coesão

Você deve ter observado que os pronomes isso e aquilo, empregados no texto 15, ajudam a estabelecer relações entre partes do texto. Ao retomarem noções e ideias já expressas anteriormente, eles ajudam a explicitar as relações que mantêm a coesão da tira humorística. Nos textos, determinadas palavras e elementos gramaticais, além de certos recursos textuais característicos dos diferentes gêneros - a disposição do texto no espaço do papel, a pontuação, os elementos gráficos, etc. -, garantem que o leitor possa estabelecer relações de sentido entre os enunciados e as partes do texto, percebendo que elas constituem um conjunto organizado, ou seja, o próprio texto. A propriedade proporcionada ao texto por tais elementos é chamada de coesão textual. No texto 15, por exemplo, você observou o efeito coesivo dos pronomes "isso" e "aquilo". Por ajudarem a estabelecer a relação de sentido entre as partes do texto, palavras como essas são chamadas de elementos de coesão textual.

Ao mesmo tempo, em um texto como a tira humorística, que é icônico-verbal, a relação entre imagem e texto verbal é responsável pela organização interna das relações de sentido: se não houvesse a imagem da tira (observe principalmente as expressões faciais de Jon, que demonstram espanto (no segundo quadro) e raiva (no terceiro), a compreensão do texto e de seus efeitos humorísticos poderia ficar prejudicada, o humor não seria possível e o texto perderia sua coesão interna.

Na língua portuguesa, há tipos diversos de elementos de coesão textual, e cada um deles desempenha determinado papel na construção dos sentidos

41

e da lógica do texto. Os pronomes isso e aquilo são alguns dos elementos de coesão textual que a língua oferece ao falante.

Os estudiosos da coesão textual costumam considerar a existência de dois tipos de elementos coesivos:

1. Os que asseguram a conexão entre as diferentes partes do texto, garantindo que relações de sentido sejam percebidas na ligação entre essas partes. Esses elementos são responsáveis pela chamada coesão sequencial.

Observe, neste trecho do texto 14, um exemplo de como ocorre a coesão sequencial. Releia-o atentando para o emprego dos termos em destaque.

ISTOÉ - A que se deve essa mudança?

MIGUEL CHALUB - Primeiro, a uma busca pela felicidade. Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada de doença, porque, aí, justifica: "Eu não sou feliz porque estou doente, não porque fiz opções erradas". Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que o remédio vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade. Eu não preciso mais ser infeliz. (texto 14, linhas 46-56)

LEGENDA: Miguel Chalub, psiquiatra.

FONTE: www.youtube.com/watch?v=3i9wGJ0pWqs. Acesso em: 10 abr. 2016.

Note que os termos primeiro e segundo estabelecem ligação entre as partes do texto, ao mesmo tempo que determinam uma sequência entre as ideias (criam uma hierarquia de sentidos).

2. Os que permitem a retomada ou antecipação de ideias, conceitos ou noções, em diferentes partes do texto, estabelecendo também relações entre elas. Esses elementos são responsáveis pela chamada coesão referencial.

Na coesão referencial, observa-se que, para não se repetir uma palavra já utilizada anteriormente, são feitas referências a ela por meio de outras palavras que a identifiquem. Leia o trecho da matéria a seguir, atentando para esse mecanismo de referência.

[...]

O cineasta Fernando Meirelles [1] não tem medo de ser chamado de "ecochato" ou "biodesagradável". Depois de grandes sucessos como Cidade de Deus, Ensaio sobre a cegueira e O Jardineiro fiel, o diretor [2] vem emprestando seu [3] talento a melhorar a comunicação das causas ambientais. Fernando [4] coproduziu o filme A Lei da água sobre crises hídricas e nascentes florestais. Está [5] ajudando a transmitir a mensagem de urgência no enfrentamento das mudanças climáticas. E assumiu [5] o desafio de comunicar aos brasileiros o valor da biodiversidade e os ambientes naturais.

[...]

MANSUR, Alexandre. Fernando Meirelles: "Quando não sou ecochato, sou biodesagradável". Disponível em: epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/05/fernando-meirelles-quando-nao-sou-ecochato-sou-biodesagradavel.html. Acesso em: fev. 2016.

LEGENDA: Fernando Meirelles, diretor de cinema.

FONTE: Greg Salibian/Folhapress

Nesse trecho foram usados os seguintes elementos referenciais: [1] uso do nome completo; [2] profissão pela qual ele é conhecido; [3] pronominalização; [4] repetição parcial do nome; [5] elipse, em que se omite a referência direta à pessoa de quem se fala (Fernando, ele), pelo fato de ela já estar clara no texto, ficando apenas a terminação verbal correspondente.

Os pronomes isso e aquilo empregados no texto 15 (a tira de Garfield), cujo uso você analisou, podem ser considerados elementos de coesão referencial.

O texto transcrito a seguir é uma resenha crítica publicada em um jornal de circulação nacional. Leia-o atentamente.

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Page 9

TEXTO 19

Prova de amor

Marina Colasanti

"Meu bem, deixa crescer a barba para me agradar", pediu ele.

E ela, num supremo esforço de amor, começou a fiar dentro de si e a laboriosamente expelir aqueles novos pelos, que na pele fechada feriam caminho.

Mas quando, afinal, doce barba cobriu-lhe o rosto, e com orgulho expectante entregou sua estranheza

5 àquele homem: "Você não é mais a mesma", disse ele.

E se foi.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 165.

Atenção professor: Sugerimos que você pergunte também se alguém já leu algum texto de Marina Colasanti (1937), escritora nascida na Eritreia, que na época era colônia da Itália na África. Se considerar pertinente, comente com eles que a escritora estudou Belas-Artes, trabalhou como jornalista e é autora de diversos livros de prosa e poesia. Escreve tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes. Fim da observação.

Literatura

Você leu neste capítulo o texto de Dalton Trevisan, que é um conto curto. E agora acabou de ler os textos 18 e 19, que são, respectivamente, o trecho de um romance e outro conto curto. Esses textos são exemplos de textos de ficção, ou seja, realidades criadas. O escritor inventa mundos ficcionais, que podem ou não assemelhar-se ao mundo real, mas não são esse mundo real.

No poema O mundo é grande, de Carlos Drummond de Andrade, ocorre algo semelhante: o poeta não se prende à realidade ao escrevê-lo. A poesia é a expressão do que está no íntimo do poeta. Ninguém pode garantir que nesse poema de Drummond haja referência a um fato concreto.

Na literatura criam-se mundos ficcionais. O texto literário não reproduz nem relata a realidade. Além disso, o que caracteriza o texto literário é o cuidado especial com a língua: para a literatura importa não apenas o que se diz, mas também como se diz.

Há diferentes maneiras de se estudar literatura: por autor, por épocas, por temas, comparando obras de diferentes autores, relacionando-a com outras expressões artísticas, etc.

Nesta coleção, você estudará literatura e terá contato com diversos textos literários. Notará que essas diferentes formas de pensar a literatura não estão isoladas, elas se complementam.

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Page 10

TEXTO 1

O menino que escrevia versos

Mia Couto

De que vale ter voz

se só quando não falo é que me entendem?

De que vale acordar

se o que vivo é menos do que o que sonhei?

(5) (Versos do menino que fazia versos)

- Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço (10) de alpinista em topo de montanha.

- Há antecedentes na família?

- Desculpe, doutor?

O médico destrocou-se em tim-tins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico (15) de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:

(20) - Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua de mel. Para ele, não fora senão (25) período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor.

Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram (30) a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

- São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da (35) escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do (40) homem se queda em ponto morto?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

- O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte elétrica. (45)

Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr


cobro àquela vergonha familiar. (50)

Glossário:



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Page 11

Figuras de linguagem

Ao se utilizarem palavras e expressões com sentido figurado ou ao se elaborarem construções sintáticas pouco usuais, com finalidade expressiva, produzem-se figuras de linguagem. Trata-se de procedimentos de linguagem adotados com bastante frequência em textos literários (embora não sejam exclusivos deles).

5 Que palavras ou expressões o pai utiliza em sentido figurado ao exigir que o filho seja submetido pelo médico a um exame geral?

Resposta: - O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte elétrica.

6 Explique: que semelhança você encontra entre essas expressões e as duas outras estudadas na questão 3?

Atenção professor: Espera-se que os alunos observem que elas pertencem ao universo profissional do pai do menino. Fim da observação.

7 Que informação o autor fornece no conto e que permite a ele supor que o leitor vai entender o sentido dessas figuras?

Resposta: A profissão do pai: mecânico.

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Há vários tipos de figuras de linguagem. É provavel que você já conheça alguns deles. Ao longo dos próximos capítulos, as figuras vão ser trabalhadas progressivamente e, quando oportuno, serão explicadas com detalhes. Assim, você poderá compreendê-las aos poucos, observando-as em diversas situações de uso. Fique atento!

8 Embora algumas expressões do texto não costumem ser empregadas, no Brasil, com o sentido proposto pelo autor, ainda assim é possível compreendê-las, apoiando-se no contexto em que são usadas. Por exemplo, no conto a palavra miúdo quer dizer 'menino', 'criança', embora, no dicionário, seja destacado seu sentido de 'muito pequeno', 'diminuto'.

a) Copie em seu caderno palavras ou expressões que, ao longo da leitura do texto, lhe tenham chamado atenção pelo fato de serem inusitadas ou pelo sentido especial que comunicam à história.

b) Explique-as com suas próprias palavras, apoiando-se no texto.

c) Compartilhe o trabalho com a classe, compare suas anotações com as dos colegas a fim de, juntos, formularem explicações comuns para o sentido das palavras anotadas.

d) Consulte um dicionário da língua portuguesa e verifique se as explicações formuladas condizem com os significados encontrados no dicionário.

e) Releia o texto 1 e reflita com os colegas: de que forma a leitura do próprio texto nos ajuda a compreender determinadas expressões ou palavras que, à primeira leitura, podem não ter sido bem compreendidas?

Atenção professor: O fundamental dessa questão é chamar atenção dos alunos para uma imprescindível habilidade leitora, ligada ao tratamento da informação em leitura - a habilidade de valer-se do próprio (con)texto para inferir significados e fazer cálculos ou previsões de sentido. A consulta ao dicionário, neste caso, deve - idealmente - ocorrer apenas após a discussão sobre o significado das expressões anotadas, pois esta atividade é proposta com a finalidade de confirmar as hipóteses de levantamento de sentidos formuladas pelos alunos. O registro da conclusão, feito pelos alunos, deve apontar para essa habilidade leitora da inferência. Ajude-os, durante a discussão, a chegar a essa conclusão. Fim da observação.

FONTE: Andrea Ebert/Arquivo da editora



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Page 12

Diálogo com a literatura

Entre realidade e ficção

Os três textos seguintes certamente vão despertar em você algum sentimento ou lembrança de uma situação vivida. Leia-os e converse com os colegas e o professor a respeito deles.

Atenção professor: Os textos a seguir são de naturezas diferentes: o texto 2 é ficcional e o texto 3 é uma notícia. A atividade consiste na observação das imagens e na leitura dos textos, na posterior discussão a respeito deles e no debate sugerido nas atividades. O fundamental é que você registre as ideias mais interessantes que surgirem na conversa, sobretudo as relativas à oposição entre realidade e ficção. Como procedimento didático, propomos que você mostre as imagens, comente-as uma por uma e, por fim, sugira aos alunos que leiam os textos. Intercale tais leituras com conversas sobre os temas dos textos e problematize esses temas. Fim da observação.




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Page 13

Língua - análise e reflexão

Releia o conto O jegue cego e responda às questões a seguir em seu caderno.

O jegue cego

Oswaldo França Júnior

Na Serra de Ibiapaba, numa das encostas mais altas, encontrei um jegue. Estava voltado para o lado leste e me pareceu que descortinava o panorama. Mas quando me aproximei, percebi que era cego!

Perguntei-lhe o que fazia nas encostas daquela serra. Ele me respondeu (5) que sempre tivera vontade de ficar ali, parado, descortinando o panorama árido. Mas o homem não permitia que ele abandonasse o trabalho e se dirigisse àquele sítio. Só houve um meio de o homem deixá-lo ir: era tornando-se inútil. E ele se tornou cego e ali estava.

- Mas você não pode ver o panorama - eu lhe disse.

(10) - Não tem importância - ele respondeu-, eu posso imaginá-lo.

FRANÇA JÚNIOR, Oswaldo. As laranjas iguais. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. p. 67.

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1 Localize no conto palavras ou expressões que indicam tempo. Copie-as em seu caderno, organizando-as em dois grupos:

Atenção professor: As formas verbais do conto desempenham essa função, especialmente os verbos conjugados no pretérito perfeito simples do indicativo (encontrei, pareceu, aproximei, percebi...). Aceite as respostas dos alunos que apontarem essas possibilidades. Fim da observação.

· as que situam os fatos no tempo criando uma sucessão entre as ações;

· as que expressam frequência ou duração.

Resposta: sempre

2 Em certa passagem do conto, o narrador promove uma "aceleração" no ritmo da história. Localize-a e indique onde começa e termina.

Resposta: Trata-se do trecho que começa em "sempre tivera" e termina em "ali estava" (linhas 5 - 8).

Atenção professor: Se quiser, você poderá destacar aos alunos que esse trecho tem função de sumário, isto é, resume um conjunto de ações que não são narradas em detalhes, mas apresentadas de forma sintética. Pode-se dizer aos alunos também que o lapso de tempo recoberto por esse trecho é maior que o que se narra no início e no fim do conto. Fim da observação.

3 Identifique as formas verbais do texto. Que tempo predomina: o presente, o passado ou o futuro? Por que isso ocorre, em sua opinião?

Resposta: Predomina o passado, já que o texto conta um fato passado, já acontecido.

Atenção professor: Lembre aos alunos que o tempo passado é expresso em geral pelos verbos no tempo pretérito. Fim da observação.

A partir das respostas às questões anteriores, acompanhe as explicações a seguir para compreender melhor as relações temporais no interior das narrativas.



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Alice no País das Maravilhas

A poça de lágrimas

Lewis Carroll

[...]

"Muito esquisitíssimo!", gritou Alice (ela estava tão surpresa que por um momento esqueceu completamente como é que se fala a língua). "Agora eu estou me abrindo como o maior telescópio que já existiu! (5) Adeus, pés!" (Pois quando baixou o olhar para os pés

eles tinham quase sumido de vista, cada vez mais distantes.) "Oh! meus pobres pezinhos, quem vai enfiar as meias e os sapatos em vocês agora, meus queridos? Eu é que não vou poder! Vou estar muito (10) longe para me preocupar com vocês. Vocês vão ter de se arrumar da melhor maneira possível... mas tenho de ser gentil com eles", pensou Alice, "senão talvez não queiram caminhar para onde desejo ir! Deixe-me ver. Vou lhes dar um par de botas novas todo Natal".

(15) E ela continuou a planejar consigo mesma como é que iria fazer para enviar o presente. "As botas vão ter que ir pelo mensageiro", pensou. "E como vai ser engraçado mandar presentes para os próprios pés! E o endereço vai parecer muito estranho!

(20) Ao Sr. Pé Direto de Alice

Tapete da lareira

perto do Guarda-fogo,

(com o amor de Alice)

Oh, meu Deus, que asneiras estou dizendo!"

(25) Bem nesse momento, sua cabeça bateu contra o teto do saguão. Na realidade, ela tinha agora um pouco mais de dois metros e setenta, e logo pegou a chavinha de ouro e correu para a porta do jardim.

Pobre Alice! O máximo que conseguiu fazer, deitada de lado, foi espiar o jardim com um dos olhos. (30) Entrar no jardim era mais impossível que nunca. Ela sentou-se e começou a chorar de novo.

"Você deve se envergonhar de si mesma", disse Alice, "uma menina grande como você" (bem que tinha razão sobre esse ponto) "chorando dessa maneira (35). Para imediatamente, estou mandando!" Mas ela continuou a chorar mesmo assim, derramando galões de lágrimas, até que se formou uma grande poça ao redor dela, com uns dez centímetros de profundidade, estendendo-se até a metade do saguão. (40)

Depois de algum tempo, escutou um barulhinho de passos à distância, e rapidamente secou os olhos para ver o que se aproximava. Era o Coelho Branco de volta, magnificamente vestido, com um par de luvinhas brancas numa das mãos e um grande (45) leque na outra. Passou correndo muito apressado, resmungando para si mesmo enquanto se aproximava: "Oh! A Duquesa, a Duquesa! Oh! Como não

LEGENDA: Cena do filme Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, produzido em 2010, com a personagem central em primeiro plano, interpretada por Mia Wasikowska. A história de Alice no País das Maravilhas já teve muitas adaptações cinematográficas. Essa é uma delas.

FONTE: © Walt Disney Pictures/Everett Collection/Keystone

Boxe complementar:

Conhecida obra do escritor britânico Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas narra a história de uma menina chamada Alice, que, após seguir um coelho que usava relógio, cai na toca dele. Tentando encontrá-lo, segue até um lugar fantástico (o País das Maravilhas) povoado por personagens estranhas. Além do Coelho Branco, há a Lebre de Março, o Dormundongo (um camundongo dorminhoco), o Chapeleiro Maluco, o Gato Risonho, o Rei e a Rainha de Copas... Nesse lugar, Alice vive grandes aventuras e se envolve em muitas confusões.

Fim do complemento.

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vai ficar furiosa se eu a fizer esperar!" Alice sentia-se (50) tão desesperada que estava disposta a pedir ajuda a qualquer um. Por isso, quando o Coelho passou perto dela, começou com uma voz baixa e tímida: "Por favor, senhor...". O Coelho levou um susto violento, deixou cair as luvinhas brancas e o leque e escapuliu-se (55) para a escuridão o mais rápido possível.

Alice pegou o leque, as luvas e, como o saguão estava muito quente, ficou se abanando durante todo o tempo em que continuava a falar. "Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem (60) tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã: Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a (65) próxima pergunta é: 'Quem é que sou?'. Ah, essa é a grande charada!" E ela começou a pensar em todas as crianças da sua idade que conhecia para ver se não poderia ter sido trocada por alguma delas.

"Tenho certeza de que não sou Ada", disse ela, (70) "pois o cabelo dela tem longos cachos, e o meu não tem cacho nenhum. E tenho certeza de que não sou Mabel, pois sei muitas coisas, e ela, oh, ela sabe tão pouco! Além do mais, ela é ela, e eu sou eu, e... oh, meu Deus, como é complicado tudo isso! Vou ver se (75) ainda sei todas as coisas que sabia antes. Deixe-me ver: quatro vezes cinco é doze, e quatro vezes seis é treze, e quatro vezes sete é... oh meu Deus! Não vou chegar nunca a vinte desse jeito! Entretanto, a tabuada não quer dizer nada. Vou tentar geografia. (80) Londres é a capital de Paris, e Paris é a capital de Roma, e Roma... não, está tudo errado, tenho certeza! Devo ter sido trocada com Mabel! Vou tentar recitar 'A abelhinha...'" e ela cruzou as mãos sobre o colo, como se estivesse recitando as lições, e começou (85) a repetir os versos, mas a sua voz soava rouca e estranha, e as palavras não saíam como de costume:

"O pequeno crocodilo

Enfeita a lustrosa cauda,

Despeja as águas do Nilo

(90) Sobre as escamas douradas!

Com que deleite arreganha-se

E calmo desdobra as garras,

Chama os peixes às entranhas

Da sorridente bocarra!"

LEGENDA: Cena da animação Alice no País das Maravilhas, produzida pelos estúdios Disney em 1951. Compare com a cena da produção de Tim Burton e observe aspectos das diferentes maneiras de interpretar visualmente uma história: compare os cenários, as características das personagens, etc.

FONTE: Walt Disney Pictures/Album/Latinstock

"Tenho certeza de que as palavras não estão (95) corretas", disse a pobre Alice, e seus olhos voltaram a se encher de lágrimas, enquanto continuava: "Devo ser Mabel, afinal de contas, e vou ter de viver naquela casinha miserável sem ter quase nenhum brinquedo para brincar, e oh, sempre (100) tantas lições para estudar! Não, já decidi: se sou Mabel, vou ficar aqui embaixo! Não vai adiantar nada eles enfiarem as cabeças para baixo e dizerem: 'Venha para cima, querida!'. Vou olhar para cima e falar: 'Quem sou eu então? Primeiro me (105) digam isso, e depois, se eu gostar de ser essa pessoa, vou subir. Se eu não gostar, vou ficar aqui embaixo até ser outra pessoa'... mas, oh meu Deus!", gritou Alice com um acesso repentino de choro, "como eu queria que eles enfiassem as cabeças (110) para baixo! Estou muito cansada de ficar sozinha aqui embaixo!"

Quando acabou de dizer isso, olhou para as mãos e ficou surpresa de ver que tinha posto uma das luvinhas do Coelho enquanto falava. "Como é que (115) consegui fazer isso?", pensou. "Devo estar diminuindo de novo." Levantou-se e foi até a mesa para se medir por ela e, pelo que podia conjeturar, viu que tinha agora uns sessenta centímetros de altura e continuava a encolher rapidamente. Logo descobriu (120) que a causa era o leque que tinha na mão, e ela o deixou cair apressadamente, bem a tempo de escapar de sumir completamente.

"Essa foi por um triz!" disse Alice, muito assustada (125) com a mudança repentina, mas feliz de ainda

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estar viva. "E agora ao jardim!" Ela correu a toda velocidade para a portinha, mas ai! a portinha estava fechada de novo, e a chavinha de ouro se achava sobre a mesa de vidro como antes, "e as coisas estão (130) piores que nunca", pensou a pobre criança, "pois nunca fui tão pequena assim, nunca! E declaro que é muito ruim, muito!"

CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Porto Alegre: L&PM, 1998. p. 23-29.

Boxe complementar:

FONTE: Bettmann/Corbis/Latinstock




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III. Ritmo

Conforme o efeito de sentido que pretenda imprimir à sua narrativa, o narrador pode:

1. Fazer os eventos e a própria narrativa avançarem na mesma velocidade - isso ocorre principalmente quando o narrador reproduz, no discurso direto, as falas das personagens. Por exemplo:

Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

- Dói-te alguma coisa?

- Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. (texto 1, linhas 52-58)

2. Acelerar os fatos - isso ocorre nos momentos em que o narrador resume os fatos ou relata, no discurso indireto, as falas das personagens. Por exemplo:

Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias [...] (texto 1, linhas 13-19)

3. Retardar os fatos - se o narrador descrever minuciosamente algum fato ou ação, o tempo ficará como que "suspenso". Numa narrativa, o pretérito imperfeito do indicativo, além de indicar a duração ou a concomitância das ações, é o tempo verbal que melhor expressa a desaceleração dos fatos. Também ocorre um retardamento quando o narrador altera o tempo da narrativa do pretérito para o presente, pois ocorre uma pausa na sequência dos fatos. É como se, numa filmagem, houvesse uma aproximação da câmera, focalizando

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melhor aquele momento da ação. No exemplo a seguir, observe o uso do pretérito imperfeito (em azul) e a mudança de pretérito perfeito (em verde) para presente (em rosa):

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

- Não temos dinheiro - fungou a mãe entre soluços.

- Não importa - respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. [...] (texto 1, linhas 93-103)

Boxe complementar:

Numa narrativa de ficção, o narrador costuma empregar o discurso direto e/ou o indireto para organizar seu relato ou reproduzir a fala das personagens. No Capítulo 2 estudaremos algumas dessas formas de citar a fala de alguém.

Fim do complemento.

4 Releia o texto 4, trecho do livro Alice no País das Maravilhas. Reúna-se com alguns colegas para analisar certas expressões temporais conforme indicado a seguir.

a) Localizem as expressões temporais que marcam a sequência dos fatos. Identifiquem, no ritmo da narrativa, exemplos de aceleração, retardamento, antecipação.

b) Copiem no caderno as expressões que encontrarem.

Atenção professor: A intenção é que os alunos comecem a perceber a forma como os tempos verbais (principalmente os do passado) ajudam a construir a representação temporal da narrativa e contribuem para os efeitos de sentido (aceleração, retardamento, etc.) do texto narrativo. Ao longo desta coleção, a questão dos tempos verbais será minuciosamente discutida. Fim da observação.

5 Observe a tela a seguir e imagine uma história sobre ela.

Boxe complementar:

LEGENDA: Morro da favela, de Tarsila do Amaral, 1924.

FONTE: Cedida por Tarsila Educação/www.tarsiladoamaral.com.br

No início do século XX, a artista plástica paulista Tarsila do Amaral (1886-1973) formou, com outros intelectuais brasileiros, um grupo que colaborou para renovar os conceitos de pintura, literatura e outras manifestações artísticas no Brasil dessa época, procurando usar técnicas que ganhavam prestígio na Europa para valorizar temas e figuras nacionais. Ela fez parte do grupo dos artistas modernistas brasileiros.

Como podemos ver na tela Morro da favela, com traços simples, cores muitas vezes consideradas caipiras na época (como o rosa), Tarsila registra cenas vistas em passeios pelo interior do país, com personagens do povo, anônimas, misturando um pouco da paisagem urbana com a rural.

Fim do complemento.

a) Inicie, numa folha avulsa, uma narrativa contando o que ocorre com as personagens da tela.

b) Nessa narrativa, promova um retorno temporal para explicar um fato que antecedeu ao momento representado na pintura.

c) Controle o ritmo de sua narrativa, inserindo sequências de aceleração ou retardamento.

d) Se quiser, insira descrições ou diálogos, para ajudar a construir o ritmo indicado.

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6 A seguir, há expressões que podem ser utilizadas para marcar a cronologia e o ritmo de uma narrativa. Reúna-se com mais cinco colegas e utilizem-nas, na ordem em que são indicadas, para produzir oralmente uma história coletiva.

Atenção professor: Se possível, organize os alunos em grupos de cinco. Fim da observação.

Naquela manhã de agosto...

Logo em seguida...

Mas dias antes...

E assim, durante os meses que se passaram,...

Hoje...


De repente...

a) Procedam desta forma: um aluno começa a história, a partir da primeira expressão; um segundo aluno prossegue de onde o primeiro parou, utilizando a segunda expressão e dando continuidade à história; e assim por diante, até que todas as expressões tenham sido empregadas.

b) Depois do trabalho oral, a história criada coletivamente em cada grupo deve ser registrada por escrito numa folha avulsa, para ser comparada com o trabalho dos demais grupos. Exponham as narrativas no mural da classe.




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I. Tempo da narrativa

Quando uma narração é organizada no passado, considera-se que os fatos narrados são anteriores ao momento em que o narrador conta a história. Por exemplo:

Um casal que não se falava há doze anos recusou-se a quebrar essa lei do silêncio, mesmo para pedir o divórcio, noticia a imprensa inglesa de quarta-feira.

Patricia Emerson mandou um bilhete a seu marido para lhe participar seu desejo de divorciar-se. Este lhe respondeu no mesmo bilhete: "Pois não". (texto 3, linhas 1-8)

Nesse trecho, os verbos destacados em verde situam as ações claramente no passado. O jornalista, ao narrar os fatos, emprega os verbos em tempos do pretérito, e assinala, com isso, que as ações narradas não pertencem ao momento em que ele está.

Por sua vez, o verbo destacado em vermelho assinala a coincidência entre o momento em que o jornalista está e o momento de acontecimento da ação expressa pelo verbo. Esse verbo está no presente do indicativo.

A alternância entre os tempos verbais é responsável, em grande parte, por criar nas narrativas uma representação do tempo.

Pelo exemplo acima, fica claro que há dois momentos bem nítidos assinalados no texto: o momento em que o jornalista produz a notícia, registrando os fatos (é o presente do jornalista, momento de referência dessa narrativa) e o momento anterior a esse do registro, no qual se deram as ações executadas pelo casal.

FONTE: Andrea Ebert/Arquivo da editora




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Lewis Carroll (1832-1898), romancista, contista e matemático britânico. Dizem que sua famosa história da personagem Alice foi criada em 1862 durante um passeio de barco feito por Carroll, suas duas irmãs e uma amiga chamada Alice. Nesse dia ele começou a contar uma história em que uma garota entrava num mundo fantástico depois de cair numa toca de coelho. Conta-se que a amiga Alice, com 10 anos na época, gostou tanto da história que pediu ao moço que a escrevesse.

FONTE: Reprodução/Ed. L&PM

Fim do complemento.

1 Converse com seus colegas e seu professor sobre os textos 2, 3 e 4 deste capítulo. Em seguida, explique: o que todos eles têm em comum?

Atenção professor: Mesmo que os alunos não empreguem o termo preciso, o essencial é que concluam que em todos os textos se contam fatos. Fim da observação.

2 De todos os textos, qual deles relata um acontecimento real?

Resposta: O texto que narra um fato real é a notícia, "História sem palavras".

Boxe complementar:




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Práticas de linguagem

Atenção professor: Neste capítulo inicia-se o estudo da oratura (o conjunto de histórias da tradição oral), cuja noção será mais bem explorada nos demais capítulos desta Unidade. A atividade proposta a seguir, uma sensibilização inicial para o tema, pode ser realizada em aulas alternadas (já que se solicita a lembrança de histórias ouvidas na infância). Permita que seus alunos recontem livremente as histórias de que se recordarem. Fim da observação.

I. Produção oral

É provável que você conheça muitas e muitas histórias. Por exemplo, mesmo sem ter assistido ao filme A garota da capa vermelha (veja foto na abertura desta Unidade), é possível que tenha percebido se tratar de história inspirada no conto Chapeuzinho Vermelho, pela simples identificação da personagem principal e, possivelmente também, pela relação existente entre ambos os títulos. É quase certo também que você conheça histórias como O Gato de Botas, Cinderela e A Bela Adormecida. E tantas outras.

Nesta seção, o estudo gira em torno dessas narrativas antigas. A partir delas, você vai se aproximar da noção de tradição oral. Para isso, sugerimos começar pela discussão das questões a seguir.

1 A respeito de antigas histórias ouvidas desde a infância, discuta esse assunto com seus colegas com base nas seguintes questões:

a) Em sua opinião, por que há histórias que circulam há muito tempo, sendo conhecidas por milhões de pessoas de diversos lugares do mundo?

Atenção professor: Aceite as hipóteses de seus alunos desde que bem argumentadas. Este momento inicial é de aproximação e construção de conceitos. Fim da observação.

b) Em sua vida, houve alguma situação na qual você aprendeu alguma dessas histórias? Em caso afirmativo, relate para seus colegas como foi isso. Ouça os relatos deles.

Resposta pessoal.

c) Reflitam sobre as respostas aos itens anteriores e elaborem uma explicação: por que isso ocorre?

Atenção professor: O fundamental é seus alunos se aproximarem da ideia de que essas histórias parecem ter sido aprendidas há muito tempo: provavelmente não sabem precisar quando, onde nem como elas lhes foram contadas. Ajude-os a perceber que é a isso que chamamos de tradição oral. Fim da observação.

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II. Sequência dos fatos

Atenção professor: Os movimentos de avanço e retrocesso na ordem dos fatos narrados estão relacionados a duas figuras narrativas - a prolepse e a analepse. A prolepse corresponde ao movimento de antecipação, e a analepse, ao de retorno em relação ao momento de referência. Em termos de artes cinematográficas, esses modos de narrar conduzem a efeitos de flash forward (prolepse) e flashback (analepse). Se considerar pertinente, ao final dessa seção, você poderá comentar sobre essas questões conceituais com seus alunos. Fim da observação.

Em um texto narrativo, a sequência dos fatos pode obedecer a três formas de narrar. O narrador pode seguir a ordem cronológica a partir do momento de referência, pode produzir retornos no tempo ou provocar antecipações de ações posteriores ao momento de referência. Observe:

1. A ordem cronológica - os fatos são contados de acordo com a sequência em que se passam, dando ao leitor a impressão de linearidade, como se uma ação sucedesse à outra. O principal tempo verbal responsável pela linearidade na narrativa

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é o pretérito perfeito simples do indicativo. Acompanhado de determinadas expressões temporais, o pretérito perfeito do indicativo funciona como índice temporal de sucessão de ações, ajudando a construir a cronologia da narrativa.

Ao ler este trecho do conto O menino que escrevia versos, tem-se a impressão de que uma ação sucede à outra (observe os verbos em destaque):

O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:

- Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clínica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente. (texto 1, linhas 72-85)

Nesse trecho, fica claro que:

· Primeiro, o médico estranhou o menino.

· Em seguida, a voz do menino foi-se anunciando.

· Depois disso, o doutor interrompeu o menino.

· Finalmente, a mãe pediu clemência.

A sequência das ações é criada pelo emprego do pretérito perfeito simples do indicativo.

Nessa ordenação cronológica em que o pretérito perfeito indica a sucessão das ações, a duração (ações que se prolongam no tempo) ou a concomitância (ações em paralelo, que se desenvolvem ao mesmo tempo) são assinaladas pelo pretérito imperfeito do indicativo. Observe:

O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. [...] (texto 1, linhas 72-73)

A ação indicada pela forma verbal custava, no pretérito imperfeito do indicativo, é concomitante (acontece ao mesmo tempo) à da forma verbal estranhou.

2. Os retornos temporais - às vezes, o narrador sente necessidade de interromper a sucessão dos fatos para contar algo que aconteceu num momento anterior em relação ao que serve de referência. Nesse caso, ele usa o pretérito mais-que-perfeito simples e expressões temporais que indicam esses retornos. Por exemplo:



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O ser humano e as histórias

O ser humano precisa de histórias. Valem romances, contos, novelas, telenovelas, filmes, quadrinhos, peças de teatro, videogames. Segundo a escritora Ana Maria Machado, isso acontece porque as histórias nos permitem

[...] viver simbolicamente uma infinidade de vidas alternativas junto com os personagens de ficção e, desta forma, ter elementos de comparação mais variados. [...] A leitura de bons livros traz também ao leitor [...] o contentamento de descobrir em um personagem alguns elementos em que ele se reconhece plenamente. Lendo uma história, de repente descobrimos nela umas pessoas que, de alguma forma, são idênticas a nós mesmos, que nos parecem uma espécie de espelho. Como estão, porém, em outro contexto e são fictícias, [...] acabam nos ajudando a entender melhor o sentido de nossas próprias experiências. Essa dupla capacidade de nos carregar para outros mundos e, paralelamente, nos propiciar uma intensa vivência enriquecedora é a garantia de um dos grandes prazeres de uma boa leitura.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. p. 20-21.

LEGENDA: Ana Maria Machado é uma das mais conhecidas escritoras brasileiras de literatura infantojuvenil. Foto de 2012.

FONTE: Daniel Marenco/Folhapress

Fim do complemento.

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História sem palavras

Michel Vergez

LONDRES, 23 out. - Um casal que não se falava há doze anos recusou-se a quebrar essa lei do silêncio, mesmo para pedir o divórcio, noticia a imprensa inglesa de quarta-feira.

(5) Patricia Emerson mandou um bilhete a seu marido para lhe participar seu desejo de divorciar-se. Este lhe respondeu no mesmo bilhete: "Pois não".

A história desse casal foi revelada quando Patricia compareceu ao tribunal de Tamworth (centro (10) da Inglaterra), onde reconheceu ter roubado uma libra e meia na cafeteria em que era empregada.

O advogado de Patricia explicou que sua cliente tinha começado a roubar dinheiro porque seu marido não lhe dava mais nenhum centavo. (15)

"O casal não se falava há doze anos e fazia tudo para não se encontrar. Quando um chegava, o outro saía", contou ele.

VERGEZ, Michel. Pequenas notícias. Porto Alegre: L&PM, 1993. p. 126.

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TEXTO 4

Atenção professor: Antes de ler o texto 4, levante com os alunos o que eles se lembram da história de Alice, personagem de Lewis Carroll. Fim da observação.



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Page 22

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.

- Há antecedentes na família?

- Desculpe, doutor?

O médico destrocou-se em tim-tins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias: (texto 1, linhas 7-19)

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Nesse trecho, o pretérito perfeito simples, destacado em verde, marca a sucessão das ações que ocorrem no momento de referência. Para indicar as ações que ocorreram antes desse momento, emprega-se o pretérito mais-que-perfeito simples, destacado em amarelo.

3. As antecipações - quando o narrador quer antecipar algum fato, relatando eventos posteriores ao momento de referência, ele emprega o futuro do pretérito simples do indicativo.

No trecho a seguir, as ações destacadas são posteriores (ocorrem depois) ao momento de referência. Observe:

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

- Não temos dinheiro - fungou a mãe entre soluços.

- Não importa - respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu. (texto 1, linhas 93-100)



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Narrativas de ficção

Você já sabe que há fatos que acontecem de verdade - como os da notícia do casal que não se falava - e outros que são criados por nossa imaginação. Quando contamos estes últimos, estamos produzindo narrativas de ficção, histórias inventadas, que podem ou não se inspirar na realidade do nosso dia a dia. Muitas vezes, as histórias ficcionais revelam-se bastante parecidas com fatos que vivemos ou que presenciamos.

Encontramos narrativas de ficção na forma de contos, romances, novelas, telenovelas, quadrinhos, filmes, teatro... São histórias que de fato não aconteceram, mas que poderiam ter acontecido ou poderão acontecer um dia. São irreais, porém possíveis.

O autor de uma história de ficção pode inventar à vontade, produzindo o que a imaginação dele for capaz de criar. Ele tem o direito de criar fatos e personagens, sem qualquer compromisso de prender-se à realidade concreta. Pode inventar lugares, objetos, falas, situações...

Numa obra de ficção, o único compromisso do autor é com a verossimilhança, ou seja, com a lógica interna da obra. Por exemplo, em Alice no País das Maravilhas, a menina cresce ou encolhe a cada vez que come alguma coisa. Esse fato, absurdo na vida real, faz todo sentido dentro da história de Alice, uma narrativa literária. Literatura, portanto, é ficção. Utilizando palavras, o autor cria mundos imaginários, situações imaginárias, personagens imaginárias, que podem ou não manter relação com o mundo de verdade.

A aceitação da ficção acontece porque existe um "pacto" silencioso entre autor e leitor. Tomemos como exemplo uma explicação de Ana Maria Machado para a história de Chapeuzinho Vermelho:

[...] na vida cotidiana, nenhum leitor em sã consciência acredita que o Lobo fala e conversa e fala com a menina ao encontrá-la no bosque. Mas, para efeito de aceitar que a história se desenrole, faz de conta que acredita e admite isso - como admite que depois o animal é capaz de conversar com a avó, comê-la inteirinha sem que ela sinta dor e que, no final da história, a velha pode ser retirada com vida de dentro da barriga do animal. Tudo isso é possível no encontro do leitor com o texto literário porque em literatura esse pacto fica muito claro.

MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006. p. 78.

Boxe complementar:

LEGENDA: François Mauriac, em 1955, aproximadamente.

FONTE: Jean-Marie Marcel/Corbis/Latinstock

Conheça a opinião de mais dois escritores sobre a relação entre ficção e realidade. A seguir, leia trecho de uma entrevista do escritor francês François Mauriac (1885-1970):

ENTREVISTADOR: Já descreveu alguma vez uma situação da qual não tenha tido experiência pessoal?

MAURIAC: Sem a menor dúvida: jamais, por exemplo, envenenei alguém! Um romancista certamente compreende mais ou menos todos os seus personagens [...]

COWLEY, Malcolm (Org.). Escritores em ação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968. p. 25.

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Agora compare essa ideia com uma consideração do escritor peruano Mario Vargas Llosa (1936):

A ficção é uma mentira que encobre uma verdade profunda: ela é a vida que não foi, a que os homens e mulheres de determinada época quiseram levar e não levaram, precisando, por isso, inventá-la. Ela não é o retrato da história, mas a sua contracapa ou reverso, o que não aconteceu e, precisamente por isso, precisou ser criado pela imaginação e pelas palavras para satisfazer as expectativas que a vida de verdade era incapaz de cumprir, para preencher o vazio que homens e mulheres descobriam à sua volta e tentavam povoar com os fantasmas que eles próprios fabricavam.

LLOSA, Mario Vargas. Cartas a um jovem escritor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 9.

LEGENDA: Mario Vargas Llosa, em 2016.

FONTE: Oscar Gonzalez/NurPhoto/Corbis/Latinstock

Fim do complemento.

3 Converse com os colegas e o professor sobre estas questões: não existem limites para a ficção? Cada um inventa a história que quiser, como quiser? Antes do início da discussão, leia esta observação do roteirista brasileiro Marcílio de Moraes:

Atenção professor: Ajude os alunos a perceber que o limite é a verossimilhança, a lógica interna do mundo criado pelo ficcionista. Fim da observação.

Para Marcílio Moraes, o limite da licença ficcional é a verossimilhança. [...] O escritor cria um mundo ficcional que tem regras próprias. Se tudo o que houver dentro deste mundo for coerente, o público aceitará como possível.

JACINTHO, Etienne. Quem quiser que conte outra. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 20 jul. 2008. p. 5. TV & Lazer.

4 Muitas pessoas costumam considerar que, se um filme ou um romance é baseado em um episódio real, isso garante a qualidade do que se vê na tela ou se lê no livro. Você concorda com essa ideia? Por quê?

Atenção professor: Estimule os alunos a relatarem suas experiências a esse respeito e analise esses depoimentos com a classe. Remeta sempre ao tópico estudado Narrativas de ficção. Fim da observação.

5 E se todos os filmes, telenovelas, desenhos animados, histórias em quadrinhos e romances desaparecessem da face da Terra? O que aconteceria?

Atenção professor: Analise as opiniões. Retome a ideia de que a ficção é fundamental para o ser humano, pois por meio dela podemos viver situações que não estão ao nosso alcance na vida real, podemos nos identificar com personagens, participar de aventuras incríveis sem correr riscos. Fim da observação.



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A tradição oral

Imagine uma época longínqua (milênios atrás) em que a escrita nem havia sido inventada. Ou então, uma época, menos recuada no tempo, em que a escrita era pouquíssimo conhecida, e a maior parte das pessoas não sabia ler nem escrever. Nesse tempo, uma forma de transmitir a cultura e o saber de uma geração para a outra acontecia oralmente: uns contando para os outros, de boca em boca. As histórias religiosas, dos deuses e seres divinos, os feitos dos grandes heróis, as receitas culinárias, as notícias... tudo isso precisava ser transmitido oralmente, e de uma forma que pudesse ser lembrado e relembrado, o que foi possível graças à tradição oral.

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A tradição oral é o conjunto de todo o patrimônio cultural que se transmite oralmente, e que envolve desde os gêneros mais elaborados, como as narrativas da tradição oral, até os mais curtos, como os gritos de guerra, as parlendas, as máximas e os provérbios, os ditos populares, as anedotas, as lendas.

Todos os povos têm uma tradição oral. E, muitas vezes, é nessa tradição que se fundamenta a identidade cultural de um povo. No Brasil, a nossa identidade é constituída por elementos de origem europeia (principalmente portuguesa), africana e indígena.

Boa parte da literatura ocidental, como os contos de fadas e as novelas de cavalaria, como as que você acabou de estudar neste capítulo, teve sua origem na tradição oral medieval. É o caso, por exemplo, das novelas sobre o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, que se divulgaram por meio da tradição oral francesa.

Outras histórias de tradição oral que estão na origem das literaturas dos países do Ocidente (incluída a literatura brasileira) são os relatos míticos dos antigos gregos e romanos, aos quais chamamos genericamente de "mitologia grega" e "mitologia romana".

Várias dessas histórias da tradição oral têm sido registradas por escrito, num esforço de serem preservadas. Outras tantas continuam muito vivas circulando apenas oralmente. E há ainda aquelas que acabam por se perder, por falta de quem as continue divulgando.

Hoje, temos a escrita e outras formas de registro e transmissão da cultura e dos saberes, mas a tradição oral ainda permanece em muitas situações, por meio de diferentes gêneros.

FONTE: Andrea Ebert/Arquivo da editora

5 A tarefa proposta agora consiste na pesquisa e apresentação de certos gêneros da tradição oral brasileira. Sugerimos duas etapas de trabalho: uma composta de pesquisa e seleção de gêneros e histórias; outra, de apresentação.

a) Reúna-se com alguns colegas para pesquisar um gênero oral tradicional brasileiro. Escolham um dentre os listados a seguir.

· lendas e mitos;

· máximas e provérbios;

· parlendas;

· romances e xácaras;

· anedotas;

· contos de fadas e contos maravilhosos.

Atenção professor: Se possível, organize a turma de maneira que cada grupo se responsabilize por um dos gêneros orais listados.

Ajude os alunos nas pesquisas e na organização das apresentações. O fundamental é que eles despertem para a tradição oral brasileira, muito rica e variada. Nas conclusões coletivas, ajude-os a perceber que tais histórias e gêneros da oratura se perpetuam enquanto houver quem os dissemine, preservando a tradição. Fim da observação.

b) Vale pesquisarem na internet, em sites confiáveis, como o Jangada Brasil - www.jangadabrasil.com.br/revista/ (acesso em: mar. 2016) - e também consultar a obra de autores brasileiros, como Sílvio Romero, Simões Lopes Neto e Luís da Câmara Cascudo, que têm extensas obras dedicadas ao registro de elementos da tradição oral brasileira e são fontes confiáveis de consulta. Durante a pesquisa, selecionem pelo menos uma narrativa do gênero em questão para apresentar à classe.

c) Na transcrição do texto, indiquem a fonte da pesquisa, a origem do(s) texto(s), a região do Brasil em que esse(s) texto(s) oral(is) circula(m) e quais são suas características principais.

d) Não vale simplesmente apresentar o texto escrito; será preciso produzir uma leitura expressiva da narrativa selecionada. Podem também gravar essa leitura (em áudio ou vídeo, por exemplo) ou encenar a narrativa para apresentar no dia combinado.

e) Conversem com o professor e, se possível, convidem outras turmas da escola e mesmo parentes e amigos para assistir à apresentação. Preparem-se bem para o evento: sintetizem o que aprenderam sobre literatura

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oral, façam anotações baseadas na pesquisa para explicar a origem do(s) texto(s) escolhido(s) (releiam o item c), expliquem como fizeram a gravação ou se preparem para ler o texto. Assim poderão responder com segurança às questões que o trabalho gerar nos espectadores ou ouvintes.

f) Depois das apresentações, façam um texto coletivo das conclusões sobre a tradição oral no Brasil.


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2 Sob a orientação do professor, formem na sala de aula um grande círculo com a turma toda para promover uma contação de histórias. Cada um de vocês vai contar alguma dessas histórias ouvidas desde a infância. Procurem lembrar-se também de onde e em que ocasiões essas histórias lhes eram contadas, e quem as contava.

Atenção professor: Para estimular o grupo, você pode dar início a essa contação de histórias. À medida que os alunos forem contando as histórias de que se lembrarem, registre na lousa os títulos dessas narrativas, bem como a situação em que eram contadas e por quem. Fim da observação.

3 Em sua opinião, o que há de comum nessas histórias contadas por você e por seus colegas durante a contação de histórias? Se quiserem, aproveitem as indicações a seguir para tentarem formular alguma conclusão a respeito dessa questão.

· Como são as personagens dessas histórias?

· Você consegue indicar uma época em que a história poderia ter acontecido? Em caso afirmativo, como você descreveria esse tempo da história?

· Em que lugares vivem as personagens? Que tipos de ações elas realizam?

· O que você sentia ao ouvir essas histórias?

· Se você contou a história a seus colegas, é porque se lembrou dela. O que acha que essas histórias têm para ficarem registradas em nossa memória?

FONTE: CREATISTA/Shutterstock

FONTE: Riccardo Piccinini/Shutterstock

4 Depois da contação de histórias e da conversa que você teve com seus colegas e seu professor, reflita sobre os seguintes itens:

I. A constituição da "cena":

a) Como a classe se organizou para ouvir e contar as histórias?

b) Como agiram e se comportaram os contadores de histórias? Que gestos faziam? Para quem ou para onde olhavam enquanto contavam?

II. As histórias contadas:

a) Havia histórias que algum colega contou e que você já conhecia?

b) Em que épocas se passavam essas histórias?

c) Que tipo de história foi contada? De terror, de suspense, sobre caipira, anedota, etc.?

d) Como eram as personagens?

III. Os traços comuns das histórias

a) Você percebeu algo de comum entre todas as histórias contadas?

b) Em caso positivo, o que foi? Compartilhe com a classe.



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II. Produção escrita

Leitor suposto

Por meio de leitura e produção de texto, propomos uma reflexão a respeito de quem fica do outro lado da folha impressa ou da tela do computador: o leitor. Será que um escritor leva em consideração quem pode ser o leitor de seus textos? Será que ter um tipo de leitor definido muda o modo como escrevemos ou dizemos alguma coisa?

Atenção professor: Antes de proceder à leitura do conto de Marina Colasanti, sugerimos algumas questões para ajudar os alunos a formular hipóteses, tendo como ponto de partida o motivo do conto, de maneira que possam antecipar determinados movimentos da intriga. Você pode conduzir a atividade como conversa ou solicitar que os alunos, reunidos em duplas ou pequenos grupos, registrem as respostas por escrito após conversarem a respeito, mas procure dar aos alunos a oportunidade de se aproximarem da história antes da leitura. Fim da observação.

1 Considere a seguinte situação: um homem parte para a guerra, deixando sua mulher. Converse com seus colegas: o que poderia acontecer com o homem e com a mulher?

● Se você fosse o homem, ao se despedir da mulher no momento da partida, que sentimentos ou sensações acha que teria? O que diria a ela?

● Se você fosse a mulher, ao ver seu marido indo embora, o que acha que faria? E o que faria depois da partida dele, quando já estivesse sozinha?

2 Você acha que situações assim ainda são comuns nos tempos de hoje, a de casais que se separam, ainda que provisoriamente, porque um dos dois precisa se ausentar por questões de trabalho? Em caso afirmativo, dê exemplos.

3 A partir de uma situação semelhante a essa, a escritora Marina Colasanti compôs o conto Luz de lanterna, sopro de vento (texto 5, a seguir). Pelo título, como você acha que a história termina?

Depois de conversar com os colegas sobre situações de partida, leia o conto a seguir.



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