Por que temos zumbido no ouvido

Sente com frequência, ou de forma permanente, um ruído ou apito nos seus ouvidos mas que já percebeu que só você mesmo é que consegue "ouvir"? Pode ser tinnitus ou acufenos. Na prática são duas palavras que apontam para um mesmo sintoma, vulgarmente designado por zumbidos nos ouvidos. Zumbido é assim a perceção do som nos ouvidos ou na cabeça não causada por uma fonte sonora externa. Saiba mais sobre as origens do zumbido, como evitá-lo e possíveis soluções de tratamento.

O zumbido no ouvido, também designado “apito nos ouvidos”, tinnitus, tinido ou acufenos, é uma sensação auditiva que é perfeitamente percebida e identificada pelo nosso cérebro, embora não provenha de nenhuma fonte sonora externa. Esta perceção auditiva “fantasma”, só audível por quem padece deste problema tem um enorme impacto no quotidiano dessas pessoas, afeta-lhes a concentração, causa ansiedade, stress e perturbações do sono, podendo também provocar hiperacusia, dor de cabeça, vertigem e, em casos mais complicados, depressão e isolamento.
Existem zumbidos agudos, do tipo sibilante, graves ou mesmo mistos, sendo que podem também variar em termos de intensidade e ter um caráter permanente ou intermitente.

Os acufenos são provocados pela tentativa do nosso sistema cerebral compensar a falta de estímulo que o ouvido interno ou a cóclea (o órgão sensorial que transforma as vibrações acústicas em estímulos nervosos), por alguma razão, não lhe está a transmitir corretamente.
Saiba que, na maioria dos casos, o zumbido nos ouvidos é um sintoma associado à perda auditiva e atinge milhares de pessoas em todo o mundo. Contudo, algumas pessoas não têm qualquer perda de audição, o que significa que existem outras causas para os acufenos.

O zumbido subjetivo é o mais comum e representa mais de 90% dos casos. O zumbido subjetivo é apenas audível pelo paciente e geralmente está associado a distúrbios no sistema auditivo. A perda auditiva é a causa mais comum, especialmente quando as células ciliadas do ouvido interno foram danificadas por um qualquer evento interno ou externo ao organismo.

O tipo de zumbido objetivo não é muito comum e representa menos de 5% de todos as pessoas que reportam zumbidos. É o único tipo de zumbido que é audível para alguém que não seja o paciente. O zumbido objetivo é frequentemente descrito como sendo pulsátil ou sincronizado com o batimento cardíaco.

O zumbido somático está relacionado com problemas de cabeça, pescoço ou dentição, o que significa que é causado por funções externas, ao invés de causas sensoriais / neurológicas, ocorrendo apenas após movimentos corporais específicos. Em alguns casos, a própria pessoa é capaz de ajustar a intensidade ou o tom do zumbido, manipulando a mandíbula, o movimento dos olhos ou aplicando pressão na cabeça ou no pescoço.

Para além da perda auditiva e do envelhecimento natural do nosso organismo, as possíveis causas dos “apitos nos ouvidos”, tinnitus ou acufenos são muito variadas. Contudo, diferentes estudos sugerem que o zumbido é provocado por neurónios hiperativos nas vias auditivas (que surgem após a destruição de certas células do ouvido interno), que são interpretados pelo cérebro como sons. São várias as causas que podem levar a essa destruição das células do ouvido interno como, desde logo, o envelhecimento natural do nosso corpo, traumas acústicos (música alta, fogos de artifício, disparo de armas, etc.), certos medicamentos ototóxicos, traumatismos cranianos, hipertensão arterial ou até mesmo infeções nos ouvidos.

O tratamento para o zumbido no ouvido dependerá sempre da sua causa e o sucesso será ditado pela resposta de cada organismo ao tratamento prescrito. Felizmente, hoje há várias formas de resolver o tinnitus, que vão desde a simples remoção de um tampão de cera até soluções mais completas que aliviam ou mesmo anulam os acufenos ou “apito nos ouvidos”. Eis algumas das principais soluções atualmente disponíveis, que podem ser prescritas isoladamente ou em articulação umas com as outras: aparelhos auditivos, medicamentos, terapia comportamental, terapia sonora, medicinas alternativas.

Os tratamentos em cima descritos funcionam, mas é necessário tempo, dedicação e o compromisso. O importante é não desistir, porque os resultados vão acabar por aparecer, mais tarde ou mais cedo.

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Embora tenha-se criado a ideia de que zumbido no ouvido não tem cura, o problema pode ser tratado com medicamentos e terapia de habituação.

Uma noite, aos 31 anos, a tradutora Lilian Panico foi se deitar com uma companhia indesejável. O silêncio que faz desse período o seu favorito para colocar a leitura em dia permitiu também que ela notasse uma presença extremamente incômoda. Nessa noite, ela passou a ouvir um som que ninguém mais ouvia.

Ao aconchegar-se ao lado do marido, quando ia começar a ler, ela notou um barulho de batimento cardíaco, como se uma veia pulsasse dentro de seu ouvido direito. Não havia dor e tampouco a sensação física de algo pulsando. Somente o som: tum-tum, tum-tum… “Eu nunca tinha ouvido aquilo e achava que era momentâneo, mas foi ficando, ficando…”

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Lilian, hoje com 34 anos, faz parte do grupo de 28 milhões de brasileiros que sofrem de zumbido, uma condição conhecida também pelo nome em inglês, “tinnitus”. No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são 278 milhões de pessoas com o problema, caracterizado pela audição de um som constante ou que vai e volta, sem ter nenhuma relação de causa e efeito com o ambiente.

É impossível saber como é exatamente o ruído do zumbido. Apesar do nome, sabe-se que poucas vezes lembra um “zzzzz”, como o de um enxame de abelhas. Pelos relatos, supõe-se que o som não seja sempre o mesmo. “Pacientes comparam com barulho de cigarra, apito, concha, panela de pressão, chiado, cachoeira”, diz o Dr. Cassio Antonini, otorrinolaringologista pela Santa Casa de São Paulo. As referências a cigarra e apito são as mais comuns.

Causas diversas

Em um quadro normal, as vias auditivas captam a vibração dos sons gerados no ambiente e os enviam na forma de impulsos elétricos para o cérebro. O distúrbio se instala quando as vias auditivas passam a enviar impulsos mesmo sem haver uma fonte gerando o som. O grande obstáculo para o tratamento do zumbido é descobrir o que leva a essa emissão indiscriminada de impulsos, já que o zumbido em si não é uma doença, e sim, um sintoma.

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Excesso de cera, infecções e lesões do ouvido são causas possíveis do problema. No entanto, muitos outros fatores que aparentemente não têm nada a ver com o sistema auditivo podem dar origem a esse sintoma. Desvios de coluna, alterações cardiovasculares, diabetes, disfunções da articulação da mandíbula e consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco são alguns deles.

A impressão de que o zumbido atinge mais os idosos é falsa, mas tem uma explicação: cerca de 90% dos casos têm como causa principal a perda auditiva. Como esse problema atinge mais a terceira idade, há mais ocorrências de zumbido nessa faixa etária. O som incômodo, entretanto, pode aparecer em qualquer idade, em pessoas com audição normal ou não. Há, porém, relação com o gênero: ainda sem explicação, o problema acomete mais o sexo feminino.

Tormento

O som da maioria dos zumbidos é agudo com volume entre três e sete decibéis (db), valor considerado bastante baixo. Somente como termo de comparação, o ruído da respiração, que é quase inaudível, fica em torno de 10 db, enquanto o do sussurro atinge cerca de 20 db. Na verdade, um som só começa a ficar desconfortável para alguém com audição normal quando chega perto dos 100 db, ou seja, próximo do barulho de uma motocicleta.

O valor do som em decibéis, entretanto, não tem nada a ver com o incômodo que ele causa. O grau de desconforto é notadamente subjetivo. “Às vezes, um paciente com zumbido de 6 db relata que não se incomoda com o barulho e que, na maior parte do tempo, até esquece que ele existe. Já outro, que ouve um som de 3 db, pode queixar-se constantemente e considerá-lo insuportável, a ponto de não permitir que durma direito”, afirma Andrea Eichner, fonoaudióloga do Centro de Estudos e Reabilitação em Audiologia.

A dificuldade para identificar a origem do problema criou o mito de que não há tratamento eficaz para o zumbido. A dona de casa Elza Jardim passou a ter zumbido nos dois ouvidos após uma crise de labirintite violenta, aos 50 anos. Ela só foi procurar um otorrino aos 70 anos e, quando o fez, foi pela perda auditiva que começava a manifestar-se, e não pelo incômodo provocado pelo som que aparentemente vinha do nada. “Eu conversava com conhecidos e todo mundo dizia que não tinha cura. Durante 15 anos vivi com um som de alarme distante nos dois ouvidos. Nos últimos cinco anos, ficou só do lado esquerdo o som de uma cigarra que nunca descansa”.

Medidas extremas

Apesar do barulho ininterrupto, dona Elza consegue conviver com o zumbido sem maiores transtornos. Assim como ela, existem pacientes que passam por consultas médicas sem sequer mencionar o problema ao longo de toda a vida.

O mito de ser incurável, entretanto, não cria somente pacientes resignados. Alguns são tomados por um sofrimento tão intenso que pode evoluir para transtornos psiquiátricos e levar a medidas extremas. “Há pacientes que chegam ao consultório mesmo sem acreditar que podem melhorar, mas decidem procurar tratamento porque já começaram a pensar em suicídio”, afirma Andrea Eichner.

Embora seja intuitivo admitir que o incômodo do zumbido pode levar a transtornos psiquiátricos, o inverso também é possível. Distúrbios como ansiedade e depressão alteram os níveis dos neurotransmissores que estimulam as vias auditivas e podem causar zumbido. Como o estado emocional pode confundir a noção do que veio antes ou depois, é fundamental conduzir uma investigação minuciosa para saber o que é causa ou consequência e, assim, poder tratar adequadamente.

Tratamentos

A forte ligação entre zumbido e perda auditiva facilita bastante o tratamento. Nesses casos, para a maioria dos pacientes o uso de aparelho amplificador é suficiente para acabar com os dois problemas. É necessário, porém, fazer uma pequena adaptação no dispositivo, abrindo um furo para ventilação, pois tampar o ouvido intensifica a sensação incômoda.

Quando o problema não decorre de perda auditiva, tenta-se identificar a causa. Essa é uma das partes mais difíceis do tratamento, já que, tirando o zumbido, o problema original pode ser totalmente assintomático.

Quando se torna inviável investigar todo o organismo em busca da causa do zumbido, a orientação é identificar os “gatilhos”, elementos que disparam ou pioram o desconforto. Álcool, sal, doces, chocolate, cafeína e nicotina são gatilhos comuns, mas nem sempre existe um elemento disparador. “A primeira orientação dada pelo otorrino foi tirar o café do dia a dia. Deixei de tomar por dois meses. Não funcionou”, diz dona Elza.

Quando nenhum gatilho é localizado, alguns medicamentos podem funcionar. “O tratamento clínico consiste na indicação de vasodilatadores periféricos, ansiolíticos e anticonvulsionantes”, explica o Dr. Cassio Antonini.

Terapia de Habituação

Nos anos 1990, foi desenvolvida uma terapia de adaptação chamada TRT, do inglês Tinnitus Retraining Therapy. Em tradução livre, a Terapia de Habituação ao Zumbido consiste em habituar o paciente a conviver com o som a ponto de não mais notá-lo.

A primeira etapa da terapia é dedicada a definir as principais características do zumbido. O paciente ouve um chiado e vai orientando modificações de timbre, frequência (grave ou aguda) e volume, até que se consiga chegar ao som mais parecido com o que ele escuta.

Com base nesse achado, o especialista configura um aparelho que gera um chiado padrão em volume um pouco mais baixo que o zumbido ouvido. Atualmente, esse gerador de som pode ser embutido no próprio aparelho para surdez. Os dois ruídos mais comuns são chamados de “White Noise” e “Pink Noise”, e o paciente escolhe com qual dos dois se sente mais confortável e adaptado.

“O objetivo é desviar a atenção do cérebro do zumbido para o chiado, e como o som deste último é contínuo e monótono, a pessoa para de prestar atenção”, explica Andrea Eichner.

É como treinar o cérebro para lidar com o zumbido da mesma forma que lida com o som de uma CPU: ele percebe o som quando o computador é ligado, mas rapidamente passa a ignorá-lo, a ponto de só voltar a perceber quando ele é desligado.

O tratamento é longo, estende-se por 18 a 24 meses, e durante todo esse tempo é feito um aconselhamento psicológico. “Quem tem o estresse como gatilho, por exemplo, não vai conseguir escapar de um eventual retorno de zumbido mais intenso. É preciso orientá-lo sobre como lidar com recaídas e como administrar sua convivência com o som de forma a não se abater”, diz Andrea Eichner.

O ideal é procurar orientação se o zumbido persistir por mais de um dia, mesmo acreditando que será possível habituar-se sozinho. A tradutora Lilian Panico chegou a incorporar o som ao seu cotidiano. “Aquele som já era parte de mim. Em uma viagem acordei à noite e cheguei a ficar assustada, porque o zumbido havia sumido”. Porém, diferentemente do que se consegue com a habituação terapêutica, acostumar-se sozinho pode não ser suficiente para eliminar o temor e a angústia. “Meu medo até hoje é passar a ter nos dois ouvidos. Com um deles, pelo menos, eu ainda ouço o som do silêncio”.